sábado, 22 de setembro de 2007

Aceito-nos, mas por favor vamos evoluir...

Aceitação não significa letargia... Considero a aceitação de nós e dos outros um factor fundamental para uma vida harmoniosa entre todos os seres humanos. Penso também que a crítica constitui uma pedra basilar do crescimento pessoal. Acho essencial aceitarmo-nos e aos outros, nas nossas vertentes positivas e negativas, compreendendo as falhas, e a respectiva humanidade de cada um. Mas uma aceitação passiva leva ao estagnar do ser: leva a que não sejamos suficientemente críticos em relação a nós mesmos de forma a crescermos contínuamente, e a influenciarmos positivamente a evolução dos que nos rodeiam. Defendo por isso uma aceitação crítica. Uma compreensão e respeito de cada ser humano na sua totalidade, com defeitos e virtudes, não só aceitando as falhas mais vulgares e logo mais facilmente toleradas, como as mais peculiares e difíceis de compreender, aliada a uma essencial crítica, que deve ter como único parâmetro obrigatório o carácter construtivo.

E onde é que pretendo chegar com isto?

Assim como uma parvoíce se torna dogma quando aceite por muitos, um defeito que seja comum à maior parte das pessoas torna-se normalidade, e assim mais difícil de detectar. Isto obviamente que não reduz a sua importância. Adoro observar... Considero a observação a maior das competências na área do crescimento pessoal e humano, porque é na observação que reside a capacidade de análise e de identificação das nossas falhas e dos outros. É ao observarmos que criamos a distância necessária a uma análise mais objectiva de nós e dos outros. É ao nos observarmos que aprendemos muito sobre nós próprios, e possibilitamos um autocrescimento constante. E é ao observarmos os outros que exponenciamos esse crescimento pessoal, podendo ainda intervir de forma construtiva no crescimento dos outros, se assim entendermos.

Todos diferentes, todos iguais? Indiscutível, na minha opinião. Não enveredarei por caminhos de defesa dos direitos humanos, defendendo a diversidade individual ou cultural paradoxalmente a uma igualdade de direitos. Falo sim de uma diversidade e de uma igualdade individuais, ao nível das mais variadas personalidades. Cada ser humano insere-se num mundo virtual próprio, tão vasto e complexo como o próprio universo – o ego. Cada ser humano nasce único, sofre a sua própria sequência de condicionamentos ao longo da sua vida, reagindo de forma diferente, e originando uma personalidade singular. Apesar destas diferenças ao nível da personalidade, podemos encontrar pontos convergentes nos padrões comportamentais dos seres humanos, regras que se aplicam a multidões, regras essas criadas e estudadas pela psicologia. Algumas dessas regras chegam a abrager um número vastíssimo, quase total da população humana. As pessoas têm todas personalidades diferentes, mas os seus processos mentais não divergem assim tanto, tornando os seus padrões evolutivos e reactivos previsíveis. É óbvio que toda a regra tem excepção, e esta regra não é excepção – há sempre pessoas que fogem ao padrão, tornando-se únicas, imprevisíveis e por vezes misteriosas aos olhos do espectador vulgar.

Na minha opinião uma das mais graves falhas dos seres humanos, e das mais comuns, é o egocentrismo. Temos tendência para sobrevalorizar a nossa existência, as nossas necessidades e desejos, os nossos sonhos e expectativas, a nossa vida no geral em relação à vida dos outros. Julgo que, e isto é apenas a minha humilde opinião, devemos procurar uma perspectiva mais equilibrada da existência, em que esses tais outros seres com quem partilhamos o palco da vida assumam uma maior porção de valorização da nossa parte.

Sou uma pessoa que tenta aceitar os outros como são mas, como disse sou também um defensor da “aceitação activa”, e também do não-conformismo. E, como tal, não consigo permanecer indiferente perante o egocentrismo do ser humano. Não sei se chegarei ao ponto de ficar triste mas, e apesar de tentar dia após dia aceitar o inevitável, sinto-me um pouco desiludido com a ilusão egocêntrica em que o Homem vive. Sou ser humano e não sou diferente dos outros seres humanos, tropençando também nessa armadilha do ego, mas apercebo-me da falácia humana através da observação, e por entre o suor do rosto e um sorriso de amor pela vida vou tentando corrigir o meu comportamento e construir pontes sobre os abismos do ego centrado em si. O fundamental é ter consciência de nós próprios e dos outros, e acho que quando isto acontece, entramos definitivamente na auto-estrada da melhoria. O problema reside na falta de consciência, na dormência de tantos seres perante si. Mas como despertá-los?

Poucos seres humanos ouvem verdadeiramente, e este é um dos tais abismos do ego de que falava. As pessoas escutam mas não ouvem. O tempo de discurso do outro ser humano é tempo de preparação para o nosso discurso egocêntrico... enquanto um burro fala, o outro baixa a orelha... baixa a orelha mas não ouve, só pensa no que vai dizer a seguir, no que vai partilhar com o outro sobre a sua própria existência. Claro que o outro muito provavelmente irá escutar, mas não ouvir – e assim se cria um ciclo.

As pessoas só querem saber de si. É uma triste evidência para o espectador atento. Obviamente que há excepções, e este é um dos casos em que a excepção devia ser a regra. As pessoas vivem tão centradas em si, que pouca ou nenhuma importância dão ao que os outros dizem ou fazem. E isto passa-se porque, e usando uma linguagem popular, não se enxergam. É a melhor expressão para descrever um estado de falta de consciência de si próprio e do seu comportamento. Um aprofundamento da nossa auto-observação evidenciaria o facto de negligenciarmos o que é importante para os outros, sobrevalorizando o que é importante para nós.

Como é tão bom encontrar uma ostra com pérola, uma estrela no céu nublado, uma pepita de ouro entre as pedras na peneira. Como é bom encontrar um ser que saiba ouvir... A maior parte das pessoas deve concordar comigo quando digo que é óptimo ser ouvido, ser escutado com atenção. No entanto, e apesar desta pretensão de obter interesse da parte dos outros em relação ao nosso ser, muito poucos o praticam em outbound – de dentro para fora! Se queres ser respeitado, respeita os outros... Se queres ser amado, ama os outros... Se queres ser compreendido e aceite, compreende e aceita os outros! 2+2 são 4, é assim tão difícil de compreender? Por entre todas as divergências com a religião cristã, “não faças aos outros o que não queres que te façam a ti” é sem dúvida um porto seguro. Se é tão bom ser ouvido, vamos verdadeiramente ouvir os outros, com interesse, e eliminar de uma vez por todas a sensação de estar a falar para um robot programado para falar dos seus transístores, do seu código base, e do seu sistema operativo! A comunicação exige linguagem, mas exige também um emissor e um receptor. Não existe comunicação sem receptor, por isso vamos de uma vez por todas começar a comunicar, e consequentemente a crescer!

Sim, eu sei... uma grande introdução e tanta divagação para chegar ao ponto fulcral da questão. Que ao contrário de abrir a mente para uma compreensão do essencial, não aborreça e faça afastar do mesmo – vamos dar aos outros aquelas coisas que mais valorizamos.

Quando a maior parte das pessoas é egocêntrica, torna-se vulgar e para muitos imperceptível, especialmente quando muitos desses muitos vivem cegos pela névoa do seu próprio egocentrismo. Abrir os olhos e observar o que se passa à nossa volta é essencial para viver de forma harmoniosa com a nossa comunidade humana. Dar aos outros o que queremos receber é o servir de exemplo, é o despertar da consciência alheia.

Vamos tornar-nos diferentes e criar uma nova igualdade, uma nova normalidade.