domingo, 15 de março de 2009

Não, não, não!

É desconcertante a quantidade de negação que inunda as nossas vidas. Muitas pessoas não se apercebem deste fenómeno, e isto deve-se em grande parte à focalização da nossa atenção para o exterior. Quando vivemos para o exterior há uma imensidão de coisas que se passam no nosso interior que passam despercebidas. Uma delas é a negação. Se, por algum motivo, se der uma reorientação da nossa atenção para o interior, começa o caminho da auto-descoberta. Muitas coisas novas se tornam visíveis. Uma dessas coisas é que o ser humano possui uma energia que pulsa constantemente, e se expressa em múltiplas formas: os mais variados pensamentos, emoções, e sensações que sentimos a todo o momento.
A energia está, mas nem sempre é expressa. O motivo que leva a que muitas vezes essa energia não seja expressa é a formatação social. Desde o momento em que nascemos que vamos sendo introduzidos num meio cultural onde existem normas de vários tipos. As normas e imposições físicas são aquelas que são provavelmente mais combatidas e restringidas na nossa sociedade. Mas quando se atinge a liberdade física, porque parar? Porque não procurar uma liberdade cada vez mais profunda? Somos livres, temos os nossos direitos humanos, porque temos (por vezes) igualdade, liberdade de escolha e de nos movermos no mundo da forma livre. E quanto ao nosso ser mais profundo? Somos realmente livres de expressar livremente tudo o que pensamos e sentimos? Teoricamente somos, mas não prática há entraves, que fazem com que aquilo que somos seja recalcado, suprimido, reprimido...
São essas amarras que chamo de negação. É uma negação feita por nós nos mais variadíssimos momentos, mas que é imposta socialmente. Não vamos no entanto criticar a sociedade, que não é mais do que um conceito abstracto, quando o problema, e a solução, residem dentro de nós.
A cultura segue um padrão, e um padrão tem normas. Destas normas fazem parte valores, moral, um padrão de pensamento mais ou menos comum. Surge uma dissociação entre valores correctos ou instituídos, e valores incorrectos ou "valores rebeldes". Surge uma discriminação do pensamento que é desviado do padrão de pensamento instituído.
Essas normas e essa distinção entre o certo e o errado são imprimidas no nosso sangue. O nosso pensamento, a forma como nos exprimimos e como vivemos. Dá-nos segurança pensar, sentir e agir de acordo com o socialmente correcto, e surge culpa quando agimos contra (a não ser que nos tenhamos re-formatado de tal forma a pensar que o contra é que está correcto). E quando me refiro a culpa, não estou a falar do sentido mais comum da palavra, refiro-me sim a culpa como negação de algo que fizemos, por sabermos (consciente ou inconscientemente) que vai contra o que está certo.
Portanto, começamos a canalizar a nossa energia duma forma muito definida pelos factores sociais. O problema é que a nossa energia possui uma forma harmoniosa de ser expressa, que é uma forma natural e livre. Quando tentamos alterar esse fluxo (pela formatação social), ele torna-se disfuncional, criando perturbações. Muitas dessas perturbações tornam-se tão vulgares que se acabam por tornar vulgares e aceites.
No momento em que focamos a nossa atenção no nosso interior, começamos a tomar consciências dos nossos mecanismos de repressão. Quando paramos de reprimir surge uma grande satisfação e equilíbrio interior. Além disso, surge também um verdadeiro conhecimento da nossa natureza, da nossa forma natural de expressar a nossa energia, sem repressões, sem negação.