terça-feira, 26 de maio de 2009

A dor

Estive a pensar na dor. Senti a dor, expressei a dor, e reflecti sobre ela. A palavra dor pode ser interpretada num sentido mais fisiológico, ou num sentido mais psicológico. Quando digo que reflecti sobre a dor, não me refiro à estimulação dos nocireceptores que estão espalhados por todo o nosso corpo. Essa sensação é uma sensação relativamente objectiva, e não nos vale de muito pensar sobre ela, restando-nos pouco mais do que sentí-la.
A dor de que falo é a dor psicológica. A dor que advém da interpretação do que sentimos. Pode originar-se na dor física, mas pode ter origem meramente psicológica. Se sentirmos uma dor corporal e a sentirmos apenas e sem a interpretar como algo de negativo, nada mais será do que uma sensação física, um aviso do nosso corpo de que algo nos ameaça. Mas se interpretarmos essa dor física, pensarmos sobre ela, e avaliarmos psicológicamente como algo de mau, faremos com que essa dor seja exponenciada, surgindo ansiedade, medo... Mas como disse, nem toda a dor psicológica se origina na dor física. Algumas dores surgem e crescem no teatro da nossa mente. Sentimos medo, desilusão... todo um leque de emoções "negativas" que nos provocam uma dor interior. Mas será que essas emoções são mesmo negativas? O carácter negativo reside na nossa interpretação dessas emoções. A emoção consiste num leque de respostas cerebrais e corporais químicas e físicas, de sensações que são objectivas quando sentidas, mas muito subjectivas quando racionalizadas.
Suponhamos que ao vivenciar diversos acontecimentos que nos marcam pela negativa, sentimos uma sensação de tristeza e desilusão, o que é algo vulgar e relativamente automático. Esse tipo de acontecimento vai ficar associado a esse tipo de dor psicológica na nossa mente. No futuro, quando voltarmos a sentir essa emoção/dor, associamos automáticamente a acontecimentos negativos, avaliamos a dor como negativa, o que inevitavelmente leva a um sentido de rejeição. No entanto, apesar dessa associação ter sido criada, são coisas bem diferentes. Se quando sentirmos a tal "dor", não a interpretarmos e avaliarmos, se não a encararmos como positiva ou negativa, e simplesmente a sentirmos, sem rejeição... essa dor torna-se num fluir de energia, numa expressão do nosso ser que é muito libertadora.
Todos os nossos sentimentos fazem parte de nós, independentemente de os chamarmos vulgarmente de bons ou maus. A distinção está na mente e na interpretação. Mas sentimentos e emoções não são bons nem maus, são sentimentos e emoções e, em última instância, devem ser exprimidos sem julgamento. Quando não o são, não estaremos a promover um bem estar e uma harmonia interiores, estaremos a promover a rejeição de parte de nós, e um estado neurótico que tanto poderá ser momentâneo como poderá marcar-nos para o resto da vida.
O segredo para lidar com as emoções e sentimentos, com as pseudo-dores, assim como com os pensamentos e com toda a vida, é largar o lastro a cada momento. Vivendo cada segundo de forma verdadeira e intensa, sem rejeição de nenhuma das partes do todo, e deixando ficar para trás de uma forma desapegada, é a única forma de sarar todas as mazelas psicológicas e espirituais que atormentam e desgastam o espírito humano, e sobrecarregam com negatividade a sua essência intrinsecamente jovem. Essas mazelas que advêm da não aceitação são o que envelhece o nosso espírito imortal.
Senti uma dor que não era dor, e a dor foi-se e o amor chegou.