segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Ego...que?

O egocentrismo é uma demonstração tão grande de ignorância... Como pode a mente de um ser humano ser tão ingénua ao ponto de se considerar de alguma forma superior ou mais importante que a de qualquer outro?
A nossa espécie é como uma máquina gigante, em que as pretensões e sonhos de cada parafuso ou alavanca não têm importância, se não visarem o bem estar e funcionamento geral. Nós só passamos a ser alguém a partir do momento que dedicamos esforços para atingir um bem comum... Até lá podemos ser considerados ausentes.
O esforço colectivo é significativo porque é superior à soma de todas as partes...
Um ser humano só é completo quando compreende isto, e assume a sua responsabilidade humana, a responsabilidade para com a espécie. Só é completo e significante quando compreende o seu dever de contribuir de alguma forma para a melhoria do mundo em que vivemos.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

O que é a liberdade?

A verdadeira liberdade emerge quando libertamos a nossa mente e o nosso coração de todos os pensamentos e sentimentos que nos reprimem. Surge quando deixamos de ser reprimidos por medos, vergonhas, ansiedades, e todo o tipo de preocupações... Enfim, todos os pensamentos e sentimentos que nos fazem duvidar de nós próprios, da nossa capacidade de ser bem sucedidos, seja na mais simples interacção humana, seja na mais ambiciosa carreira.
Quando sentimos total confiança em nós próprios para pensar, falar, agir e interagir com toda a segurança, ou seja, quando eliminamos todos esses pensamentos e sentimentos negativos, sentimos essa liberdade.
É uma liberdade que não tem limites, e nos deixa crescer até ao expoente máximo do nosso ser, da nossa expressão... É uma liberdade que nos deixa ser grandiosos e mostrar ao mundo os nossos talentos únicos... e cujos travões assentam única e exclusivamente no respeito pelos outros, pela unicidade de cada um...

Quem não sabe é como quem não vê

Como podemos julgar ter uma percepção próxima da realidade, quando há ainda tanto conhecimento que nos escapa?
Com isto quero dizer que só conseguimos ter uma percepção correcta daquilo que conhecemos, ou melhor, daquilo que compreendemos. Basta adquirir um conhecimento novo para, a partir desse momento, repararmos em algo que tinha estado à nossa frente o tempo todo, e começarmos a encontrar esse algo inúmeras vezes no nosso quotidiano. Quando adquirimos um conhecimento novo ficamos mais conscientes, ficamos mais atentos, ou melhor, com uma atenção diferente, mais aberta.
Por exemplo, achei interessantíssimo quando li que temos um tipo de neurónios, que se chamam neurónios espelho, que são responsáveis por imitações involuntárias de gestos ou acções de outras pessoas. Quando alguém ri para nós, por exemplo, muitas vezes rimos sem nos dar de conta, pois os nossos neurónios espelho "reflectem" a expressão da outra pessoa. A partir do dia em que li comecei a estar mais atento ao comportamento das pessoas, e é incrível o número de vezes que isso acontece! Somos autênticos macacos de imitação! Comecei a ver acontecer em todo o lado, a toda a hora, algo que não notaria se nunca tivesse lido aquele texto. E o mesmo se passa com grande parte do conhecimento. Temos uma percepção que julgamos real das coisas...mas que vai sendo gradualmente alterada à medida que adquirimos novos conhecimentos de como as coisas são e funcionam.
Sendo assim, imaginemos a quantidade de coisas que podemos estar a perder a cada segundo que passa, estando elas mesmo à nossa frente, só porque nunca nos disseram que elas existiam!
Li que, quando Colombo chegou às Caraíbas, os índios não conseguiram ver os barcos do navegador por vários dias, estando eles mesmo em frente à praia. Os seus cérebros não conseguiam processar aquela imagem, porque era algo totalmente diferente de qualquer coisa que eles conhecessem!
É também sabido que o nosso cérebro processa apenas alguns milhares de estímulos exteriores, dos milhões e milhões com que somos bombardeados a todo o segundo...
Da quantidade inicial de estímulos, eliminamos logo à partida uma grande parte, com os nossos sentidos...e dos restante eliminamos muito mais com a nossa "interpretação" das coisas. Associamos, dissociamos, criamos juizos...e após um longo e complexo processo mental, criamos uma perspectiva mental daquilo com que nos deparamos. Claro que isto dura fracções de segundo, mas é o suficiente para alterar a percepção da realidade.
Então até que ponto a percepção que temos do mundo que nos rodeia é próxima sequer da realidade?

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Suficiente +

Acordo e vou à janela...
Olho para fora e vejo um mundo...
Vejo uma terra onde tudo é perfeito,
desde o mais árido deserto, à mais pura cascata,
desde o pico mais alto, à maior das profundezas,
mesmo à profundeza do coração humano...
Vejo o Yin de um lado
Vejo o Yang do outro
Mas no conjunto, tudo é perfeito, tudo é como tem de ser

A vida é um equilíbrio
Entre povos diferentes
Entre culturas diferentes
Entre Homens diferentes
Entre visões e ambições diferentes

Tudo tem de existir
para que o equilíbrio exista

No entanto será que caminhamos para um destino comum?
Ou será que as disparidades se manterão para todo o sempre?

A vida é um teste...
Um teste a uma espécie...
Um teste para saber se conseguimos...
Se conseguimos, antes demais, sobreviver
Se conseguimos também prosperar
Se conseguimos nos entender
e talvez perceber
Que sempre fomos, e sempre seremos, Um

Um teste à nossa capacidade
de funcionar como espécie
que cohabita em harmonia
e partilha um projecto comum
de atingir a Paz

sábado, 10 de fevereiro de 2007

Meditação

Há várias definições de meditação, e há várias explicações possíveis, dependendo da tradição associada. Nenhuma delas pode ser provada como correcta, e cabe então a cada um escolher aquela em que quer acreditar, que faz mais sentido para si. Para algumas pessoas meditar é apenas sentar-te numa posição confortável e observar a respiração, para a tradição Zen tanto é estar sentado, como depois se completa com a meditação em andamento. E além dessas perspectivas, há muitas outras. Em termos de objectivos, a meditação é, para alguns, uma fuga ao stress e uma forma de se manter saudável, enquanto que para outros é a busca da chamada "iluminação".
A cultura ocidental tem vindo a adoptar a meditação, mas por enquanto, "apenas" visando o seu bem-estar, quer seja físico, mental, ou espiritual. Digo apenas, não porque tal seja pouco importante, mas porque pode ir muito além disso. E isso verifica-se na cultura oriental, em que a meditação representa, na maior parte das vezes, uma busca da "verdadeira identidade".
Mas então, e o que é a Meditação?
Para compreender a meditação, é preciso primeiro compreender que o nosso ser se divide em corpo, mente, e que há algo mais, que poderá ser chamado de alma, ou consciência. O corpo é a parte física, instintiva, e animal. A mente é uma parte imaterial com uma origem física, que é o cérebro. E a consciência é algo que está para além do corpo e da mente, e que na maior parte pessoas se encontra quase adormecida. É algo imaterial, espiritual, sem origens físicas.
Nós podemos controlar o nosso corpo, através do nosso sistema motor, por "ordens" enviadas pelo cérebro. Podemos também usar a nossa mente, através de uma aprendizagem e da prática. Mas não podemos usar nem controlar a nossa conciência. A nossa consciência simplesmente "É", é algo único e imutável.
Desde o dia em que nascemos que o nosso corpo cresce e se desenvolve. Desde o dia em que nascemos, que alimentamos a nossa mente com todo o tipo de informação, de conhecimento. Criam-se os conceitos, os valores, ideologias, memórias, desenvolve-se o raciocínio e a lógica. Mas a consciência permanece imutável.
A nossa consciência é como uma superfície lisa e brilhante, como um espelho. E à medida que vamos vivendo em sociedade e "crescendo", vamos cada vez mais acumulando camadas de pó em cima dessa superfície. Vamos sendo limitados na nossa percepção do que nos rodeia, e pior, na nossa percepção de nós próprios. O nosso comportamento vai sendo moldado, assim como a nossa perspectiva das coisas, segundo as influências da sociedade. Temos de aprender a nos comportar como os outros e ver as coisas como os outros, pois se somos diferentes, somos alvos de discriminação. Uma criança ri de forma genuína, olha as coisas de forma genuína, e comporta-se de forma genuína. Mas os adultos têm de se comportar de acordo com o aceite pela sociedade, com o definido como "normal"...e quanto mais o tempo passa, mais se afastam do seu ser original. As paixoes de infância perdem-se, a alegria e o entusiasmo, a autenticidade e ingenuidade. Grande parte da beleza do nosso ser é coberta com uma espécie de armadura que nos faz esquecer quem realmente somos.
A beleza da meditação é permitir-nos voltar a esse estado de pureza há muito perdida. Meditação é consciência. À medida que meditamos, e quanto mais profundo é o estado de meditação, mais nos livramos do pó que reside na consciência, originário da mente, mais nos livramos de todos os ensinamentos que nos foram transmitidos desde crianças. Claro que, depois de atingirmos o estado mais profundo de meditação, podemos sempre voltar a usar a mente e todo o seu conhecimento quando quisermos, mas apenas como uma ferramenta, mantendo a nossa unicidade.
Quando estamos num estado de meditação, olhamos para qualquer coisa como se fosse a primeira vez, porque como a mente se encontra ausente, não existe memória de alguma vez termos visto o que está à nossa frente. Quando estamos num estado de meditação, tratamos toda a gente de forma igual, não temos ensinamentos que nos permitam diferenciar as pessoas, de acordo com a sua aparência, ideologia, ou qualquer outro critério. Nem será preciso dizer que num estado meditativo não existe preconceito. Vemos as coisas como elas realmente são, daí se dizer que meditação é verdade.
Para conseguir compreender tudo isto, é necessário compreender que para meditar não é necessário estar sentado, deitado, ou em nenhuma posição específica. A meditação é um estado de ausência de mente. um estado em que o que está presente é a consciência. Este estado pode ser atingido, com a prática, em qualquer local ou situação.
A nossa mente está constantemente a trabalhar, quer estejamos a dormir (sonhos), a comer, tomar banho, a andar... raramente pára! Sempre activa e a pensar. E isso torna-nos ausentes, não estamos presentes. Quem nunca reparou em pessoas sentadas na rua a olhar para lado nenhum, absorvidas nos seus pensamentos? Elas não estão a viver o presente, estão ausentes. Passamos grande parte do dia nesse estado ausente. E a meditação é conseguirmos deixar de usar a mente quando não é necessária, deixá-la parar e estar constantemente presentes, onde quer que estejamos.
99% das vezes em que estamos ausentes, vagueamos em memórias ou pensamentos relativos ao futuro, ou seja, raramente vivemos o presente. O passado e o futuro não existem, e no entanto insistimos em tentar vivê-los. Para estar completamente no presente não pode haver pensamento, para que todas as nossas energias se virem para a percepção que temos do exterior, e não sejam gastas nos impulsos eléctricos gerados pelos nossos pensamentos.
Resumindo e concluindo, um estado de verdadeira meditação, é um estado em que apenas utilizamos a nossa mente para fins de raciocínio ou comunicação, tarefas que exijam pensamento e verbalização. Em que, além desse momentos, a nossa mente pára, e toda a nossa atenção está virada para o presente. E finalmente, é um estado em que, não havendo a mente e todas as memórias e os ensinamentos do passado, sentimos que somos a nossa consciência e sentimos quem realmente somos.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Meditação, um caminho para a Paz

Há pessoas que dizem que a vida é difícil e complicada, outras defendem que a vida é generosa e muito simples. Eu defendo a segunda perspectiva pois acho que nós vemos as coisas de acordo com a forma como funcionamos. Se aprendermos a funcionar de uma forma mais simples, a nossa visão das coisas tornar-se-á mais simples. E o que é funcionar de forma mais simples...? Na minha opinião será viver mais com o coração e a consciência do que com a mente e a razão.
A mente é um instrumento poderosíssimo de potencial quase infinito, se não mesmo infinito. É de grande utilidade, se utilizada com sabedoria. Mas um mundo de pessoas que são controladas pela mente e se identificam com ela, julgam que eles e a mente são a mesma coisa, não é um mundo de pessoas sábias.
A mente é uma ferramenta duma estrutura muito maior e mais completa. A consciência, ou espírito, ou alma, é algo muito mais profundo, e mais próximo do nosso verdadeiro ser. A mente deve ser utilizada pela consciência nas tarefas racionais da nossa vida. Deve ser utilizada para todo o tipo de comunicação e raciocínio. O problema é que a maior parte das pessoas usa a mente para isso, mas mesmo quando não executa nenhuma dessas tarefas, a mente não pára de funcionar.
Estamos constantemente num estado de sonambulismo, mais ausentes que presentes, perdidos nos nossos pensamentos, enquanto uma vida cheia de coisas belas passa à nossa frente. Desviamos a nossa atenção para o passado ou para o futuro...nesses pensamentos distantes, porque a maior parte das vezes nós é que somos controlados pela mente, e não ao contrário. E ela não pára de funcionar.
Devemos usa-la para nosso proveito, pois é indispensável. Mas devemos dar-lhe descanso quando não é necessária.
É aqui que entra a meditação. A meditação é um estado de não-mente. Um estado em que a mente se acalma e pára por completo. E então podemos desviar as nossas atenções por completo para o que nos rodeia, em vez de andarmos perdidos dentro de nós, nos nossos pensamentos. Quando deixamos de virar a nossa atenção para esses pensamentos, num estado meditativo, e observamos as coisas à nossa volta, estamos mais presentes e alertas, e daí o termo "despertar" ser utilizado pelo Budismo, para descrever o atingir de um estado profundo de meditação, como supostamente foi atingido pelos Budas.
Quando a mente se acalma através da meditação continuamos vivos, e bem mais vivos que antes. Mas passamos a funcionar de outra forma, vivemos através da consciência, ou do coração.
Quando olhamos o mundo usando lentes vermelhas, vemos o mundo vermelho, ou seja, o que vemos depende da perspectiva adoptada. Utilizando a perspectiva mental, é normal que compliquemos o que é simples. A mente é um instrumento muitíssimo complexo, e só sabe ver as coisas de forma complexa. Se, através da meditação, ou de qualquer outro método (se possível) vivermos mais com a consciência e o coração, através desses processos mais simples, a vida tornar-se incrivelmente mais simples, porque a consciência, ao contrário da mente, vê duma maneira simples, pois ela própria é simples.
E quanto mais aprendermos a dosear a utilização da mente, mais rapidamente os nossos problemas desapareceram. Todos os sentimentos negativos, que originam todo o tipo de problemas no nosso mundo, têm origem em pensamentos: o preconceito é um pensamento; a inveja tem origem no pensamento de querermos ter tanto como o outro, por exemplo; todos os outros sentimentos negativos, como a ganância, têm origem em pensamentos.
Se aprendermos a dominar a nossa mente, acalma-la, e viver conscientes, ausentes de pensamentos quando estes não são necessários...com o reduzir da actividade mental e do número de pensamentos, iremos ter menos pensamentos negativos, e logo menos sentimentos negativos e comportamentos negativos.
A mente é valiosíssima e muito muito útil, mas todos os aspectos negativos do ser humano, vêm também da mente. O ser irracional apenas compete e faz o mal por instinto de sobrevivência, o Homem faz intencionalmente, por causa da mente. Se atingissemos um estado permanente de meditação, iríamo-nos comportar duma forma mais parecida com os animais, no aspecto social, na medida em que seria mais harmoniosa e desprovida de negatividade, e continuaríamos a poder utilizar a nossa mente, mas apenas quando quiséssemos, e não quando ela decidisse tomar o controlo. A consciência iria passar mais tempo no leme da nossa vida, e a consciência nunca está errada, a consciência sabe sempre como agir da forma correcta.
O que nos pode fazer ter pensamentos que vão contra os princípios fundamentais da humanidade, de igualdade e respeito, que vão além de todas as crenças e ideologias, é a educação que recebemos ao longo da vida. Mas logo aí, a educação é algo que está incutido na mente. Ao vivermos com a consciência e não com a mente, todos esses pensamentos adquiridos através da nossa aprendizagem desvaneceriam e deixaríamos de agir de forma errada.
O problema é que não podemos obrigar ninguém a meditar, tem que ser a pessoa a querer e dar o primeiro passo. Mas quando desse, ao sentir a paz de espírito que a meditação trás, como poderia não interagir harmoniosamente com o mundo? Afinal, nós não exteriorizamos o que sentimos? Quem se sente irado, exterioriza ira; Quem se sente triste emana tristeza; Quem sente paz, emana paz.

Utopizices...

Uma utopia só o é enquanto um ou poucos sonharem com ela... Quando a maioria ou todos sonharem com ela, deixa de ser uma utopia, passa a ser uma realidade.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Viajar é aprender...

Não me quero tornar repetitivo, mas não podia deixar de completar o post anterior...que, diga-se de passagem, já estava um pouco extenso... :)
Disse que o verdadeiro crecimento humano é o crescimento global, o crescimento que se adquire quando viajamos, e quando conhecemos e compreendemos os nossos "vizinhos". E não, não estou a falar só dos espanhóis, porque o mundo se torna mais pequeno a cada dia que passa! :)
Poderiam dizer que não, e que o verdadeiro crescimento é o interior, mas quando digo verdadeiro, digo mais completo. E o ser humano é, quer queiramos quer não, um ser social. É um ser que só se encontra completo na sua essência quando socializa, quando interage com os outros seres da sua espécie. Por isso, por mais importante que seja o crescimento interior (que é, sem dúvida, de valor inestimável), nunca será um crecimento completo, porque lhe falta a componente social, que o completa e torna verdadeiro.
Acho que o crescimento global, social, tanto faz, é mais que uma opção, é uma responsabilidade. Uma responsabilidade de cumprirmos para com os nossos deveres de pertencer a uma "espécie social". Temos de interagir, e temos de nos desenvolver em conjunto, não faz sentido ser doutra forma.
Para nos desenvolvermos em conjunto, temos de partilhar conhecimentos, temos de unir esforços. A primeira coisa a desenvolver é, e não me canso de bater nestas 8 teclas (podem contar para confirmar), eliminar todo e qualquer tipo de PRECONCEITO. Se tivermos preconceito em relação a alguem, não podemos nos abrir a essa pessoa, e ao conhecimento que tem para nos transmitir. Quando abolimos totalmente o preconceito, ficamos mais abertos aos outros, e aí podemos começar a trabalhar em conjunto.
A nível global, respeitando as diferenças, respeitando os diferentes pontos de vista e valores, as diferentes religiões, as diferentes culturas, ficamos abertos a retirar para nós e aprender tudo o que têm de proveitoso. E acredito que toda a gente, mas mesmo toda a gente, tem.
Num mundo em que se cooperasse desta forma, iríamos desenvolver-nos muito mais rapidamente e, mais importante, iríamos desenvolver-nos na direcção dum mundo melhor em todos os aspectos. Desde a paz ao desenvolvimento tecnológico, cultural, espiritual...
É aqui que entram as viagens. Além de serem uma grande ajuda na destruição desse grande mal que é o preconceito, são a melhor forma de ir buscar esse conhecimento, essa sabedoria. Viajarmos pelo mundo permite-nos absorver tudo o que de bom têm os outros povos para nos ensinar. E isto pode ser aplicado em qualquer campo, tanto para um homem de negócios, racional, cuja prioridade é o sucesso profissional, que ao viajar, poderá aprender novas técnicas de marketing e gestão, adquirir conhecimento de novas tecnologias disponíveis, etc., como para crescimento pessoal derivado do intercâmbio cultural, como para um artista que busca inspiração, um cozinheiro que vai aprender novas técnicas e receitas, incluindo exóticas, etc. E isto aplica-se a todas as áreas da nossa vida. Lidar com a diferença da forma adequada faz-nos amadurecer em todos os sentidos. Estamos em muitas formas a exercitar o nosso cérebro, e isso estimula a nossa inteligência e também a nossa imaginação.
No fundo, permite-nos crescer da forma que pretendermos, dependendo da personalidade de cada um, e dos objectivos que tem estabelecidos para si, mas quase sempre de uma forma positiva.

Viajar é Crescer...

Viajar é uma das coisas que me dá mais prazer na vida...
Viajar é uma das experiências mais enriquecedoras que existem...
Por vezes julgamos que é uma experiência para um restrito número de pessoas, mas digo por experiência própria que não o é: é uma questão de prioridades... se a nossa prioridade e paixão for realmente viajar, há 1001 formas de o fazer quase sem dinheiro, basta muita dedicação.
E é algo em que julgo que vale a pena investir, porque é algo que nos proporciona um profundo bem estar, mas acima de tudo, um grande crescimento pessoal.
Uma pessoa que nasce e vive numa ilha, por exemplo, sem nunca sair dela para proceder a esse belo intercâmbio cultural que é viajar, tem (e eu bem o sei), regra geral, uma mentalidade um pouco limitada, e muito preconceituosa. Na minha perspectiva, a raiz do preconceito é a ignorância, na qual se baseia a intolerância. O preconceito e a intolerância derivam do não confronto com situações diferentes, neste caso culturas e valores, um número "suficiente" de vezes. Agora o problema será definir esse número...mas isso vai da experiência de cada um... À medida que vamos lidando com uma situação que nos é estranha, em relação à qual se pode gerar algum preconceito, começamos a compreender melhor, e com a compreensão vem a harmonia.
Uma pessoa que está educada de uma forma, e vive numa sociedade em que todos são educados da mesma forma, e que não tem contacto com culturas diferentes, torna-se de certa forma ignorante, intolerante, e muitas vezes preconceituosa. Atenção à palavra ignorância. Não tenciono de forma alguma culpar uma pessoa por ser ignorante (quem sou eu para para isso?), ou rebaixá-la relativamente às outras, pois defendo a igualdade entre todas as pessoas, e acredito que só não fazemos melhor quando não sabemos fazer melhor, e logo uma pessoa ignorante só o é se não foi "ensinada a não o ser".
A diferença para uma pessoa educada em tal ambiente cultural, em que não é confrontada com diferenças culturais, é confusa. Ser confrontada com valores diferentes dos seus, por vezes totalmente diferentes dos seus, é confuso, podendo chegar a ser totalmente incompreensível.
O cérebro humano vive muito à base da habituação, podemos reparar nisso em milhares de situações no nosso quotidiano, e se nunca foi confrontado com uma diferença, neste caso cultural, não está habituado a ela. À medida que for confrontado com valores e mentalidades diferentes, vai habituar-se à situação, e vai começar a se tornar mais tolerante (claro que isto é na maioria dos casos, pois quase todas as regras têm excepção). Este é um processo que depende de muitos outros factores, e daí derivam as excepções. Uma pessoa, que por exemplo possa evitar o contacto com essas valores e culturas diferentes, que não seja obrigatoriamente exposta à diferença, pode perfeitamente refugiar-se e enraizar-se na sua perspectiva das coisas, aumentado o preconceito.
Uma pessoa intolerante que é confrontada com algo que não compreende, cria muitas vezes um preconceito (ou como eu costumo chamar, uma "crítica ignorante"), mas quando compreende a razão da diferença, o preconceito defaz-se.
Uma pessoa ao viajar, lida com uma grande variedade de culturas. Lida com mentalidades, valores, crenças diferentes da sua. Começa a compreender que a sua é "apenas mais uma", nem mais nem menos importante do que as outras. Começa a ser mais tolerante a todo o tipo de diferenças, e a aceitar os outros sem preconceitos. Este é um dos caminhos, talvez O caminho, para um mundo harmonioso e justo. Será uma utopia? O caminho é conhecermos e compreendermos os outros, as outras culturas, para coexistirmos nesta aldeia, cada dia que passa mais global.
Este é o verdadeiro crescimento humano, o crescimento global, duma espécie que deveria, como todas as outras, viver em aproximação e solidariedade, em cooperação visando atingir um destino comum.
Mas tão importante como este crescimento, tão importante como conhecermos e compreendermos os outros, é importante nos conhecermos a nós próprios, é importante crescermos nós próprios.
E acho que viajar é uma das muitas ferramentas que podemos utilizar com esse objectivo, uma ferramenta das mais poderosas, diga-se de passagem.
O nosso cérebro é muito associativo, funciona muito à base da associação, comparação, e relativização das coisas e situações. Quanto maior o número de situações nas quais observarmos uma pessoa, melhor a conhecemos; Quanto maior o número de experiências por que passarmos, mais nos conhecemos a nós próprios, porque sabemos como reagimos perante novas situações, estamos a adquirir mais conhecimento sobre nós próprios. As viagens são uma experiência que nos proporciona crescimento pessoal, porque são experiências intensas que nos fazem deparar com situações novas, nos fazem crescer interiormente, e expandem a nossa mentalidade em todos os sentidos. Tornam-nos mais tolerantes e compreensivos, e acho que só essas duas características já são suficientes para provar que viajar é, de facto, crescer.
Mas a magnificência da arte de viajar é o conjugar do crescimento pessoal interior, com o crescimento pessoal social. É uma experiência tão enriquecedora porque nos permite chegar um pouco mais longe no caminho da auto-descoberta, mas também porque nos permite evoluir nas nossas relações com as outras pessoas, e consciencializarmo-nos de que, no fundo, somos um só povo.