quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Sleeping Buddha...

A palavra Buda representa mais do que uma pessoa, representa um estado. Um estado mental, de consciência, espiritual, isso agora cabe a cada um interpretar, dependendo das suas crenças. Siddartha Gautama é o nome do príncipe que abandonou tudo o que possuia por uma busca espiritual, pela busca de si mesmo. Após 6 anos de busca, ao início através da prática de ioga e do ascetismo extremo (prática da renúncia ao prazer, muitas vezes às necessidades mais básicas), e mais tarde através da meditação e do auto-conhecimento, compreendeu a essência das coisas, a origem da infelicidade humana, e ficou iluminado, enquando se encontrava sentado debaixo de uma árvore Bodhi. Após ter atingido este estado superior de consciência, este Buda começou a propagar a meditação, o auto-conhecimento, a compaixão, como forma de escape dos males do mundo, e foi assim que surgiu a 'religião' budista. O budismo expandiu gradualmente, dentro da própria Índia, onde surgiu, e para inúmeros países da Ásia, entre os quais a China, o Tibete, o Japão (onde deu origem à conhecida escola Zen), e a cultura da busca de si próprio, do conhecimento interior, expandiu no Oriente, ao contrário do Ocidente, este sempre vocacionado para a cultura do exterior.
Mas este fenómeno de busca de si próprio não é um fenómeno budista, é um fenómeno potencialmente humano. O estado de nirvana é apenas uma palavra atribuída ao fenómeno que potencialmente está ao alcance de qualquer ser humano. A palavra Buda é apenas a palavra atribuída pelo budistas a alguem que atingiu iluminação, ou o estado de nirvana.
A palavra Buddha vem do sanscrito (língua clássica da Índia antiga, que pode ser equiparada ao Latim) e significa desperto. E desperto porque? Porque digamos que nós, apesar de não estarmos a dormir mais do que as necessárias horas de sono, passamos as restantes horas da nossa vida num estado semi-acordado. Esse estado é caracterizado pelo pensamento compulsivo, pelo condicionamento social, pela automatização das nossas acções, pela distorção da nossa percepção pelo passado, e pela constante busca de algo no futuro.

Pensamento compulsivo porque nunca aprendemos a parar de pensar, e o fio de pensamento prolonga-se desde que acordamos até que nos voltamos a deitar, para então continuar nos sonhos. Não será necessário dizer que esse tipo de pensamento nos distrai do que se passa à nossa volta, e é o grande criador dos nossos pseudo-problemas.

O condicionamento social consiste na formatação por parte da sociedade, que faz com que pensemos e ajamos de forma padronizada e estipulada pelo meio onde nos inserimos. Não pensamos e agimos de acordo connosco, mas de acordo com a sociedade, e portanto não somos livres nos nossos pensamentos e acções.

A automatização das nossas acções é um fenómeno que acontece quando já dominamos satisfatoriamente uma acção, passamos a fazê-la automáticamente, e ao mesmo tempo que a executamos dedicamos uma parte da nossa atenção ao pensamento compulsivo. Isto impede-nos de apreciar a tarefa pela tarefa, e torna difícil a melhoria da execução da tarefa.

A distorção da nossa percepção pelo passado baseia-se no facto de aquilo que vemos, e a forma como compreendemos a realidade, que irá determinar as nossas acções, é extremamente condicionada pelo nosso conhecimento e pelas nossas experiências do passado. O nirvana representa um estado em que a mente está calma, e morre para o passado, concentrando-se totalmente e apenas no presente. Daí dizer-se que o nirvana é um regresso à inocência, em que o nosso olhar se torna puro e inocente como o de uma criança, pois não está condicionado pela memória. Isto possibilita uma verdadeira comunicação e um verdadeiro relacionamento com tudo o que nos rodeia, pois deixamos de olhar através de uma lente distorcida pelo passado, e vemos de uma forma límpida o que nos rodeia.

A busca de algo no futuro consiste no constante pensamento em algo no futuro, algo que receamos ou algo que pretendemos alcançar. O receio de possíveis acontecimentos futuros representa grande parte das nossas preocupações e pseudo-problemas, e se nos focarmos totalmente no presente será concerteza a melhor forma de cultivar um futuro pleno. O anseio por algo no futuro é o maior factor gerador de stress e ansiedade, e coloca-nos numa roda viva de busca de algo exterior para satisfazer o nosso ser. Um dos pontos fundamentais da demanda espiritual é o abandono da busca compulsiva, quando se atinge uma verdadeira compreensão da futilidade da mesma.

E quando, através da meditação e do auto-conhecimento profundo, nos conseguimos focar totalmente no momento presente, sem pensamentos sobre o passado ou o futuro, isso é o nirvana. Quando ultrapassamos todo o tipo de sentimentos que causam divisão entre o presente e o passado ou futuro, isso é o nirvana. Quando conseguimos manter uma mente silenciosa, e sensível a tudo à sua volta, e conseguimos dedicar todo o nosso ser a cada tarefa que nos propomos executar, isso é o nirvana. Quando cada momento é novo para nós, e o abordamos de forma incondicionada... isso é o estado de Buda. E a isso chama-se estar desperto.
O estado de Buda não é nada de sobrenatural, é apenas um estado de atenção total, em que somos nós próprios e totalmente verdadeiros. Esse é um estado que está mais perto de nós do que pensamos. No fundo somos todos Budas... mas o reflexo do nosso espelho parece estar coberto pelo pó do pensamento compulsivo e do condicionamento social, abafando a pureza do nosso ser.
Todos nós somos Budas adormecidos, aprisionados... mas mais grave que tudo, inconscientes, pois não nos apercebemos de que estamos a dormir, e não nos consciencializamos das nossas prisões. No fundo, é tudo uma questão de consciência... quando nos tornamos verdadeiramente conscientes de nós e do que nos limita, a armadura cai e o Buda acorda de um sono que durou anos... e sente pela primeira vez o sabor da vida, o aroma da liberdade.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Observar: a cura para a infelicidade

Quanto mais conscientes de nós próprios nos tornamos, mais autónomos nos tornamos. Quanto mais nos apercebemos das prisões e da falsidade em que vivemos, mais livres e genuínos nos tornamos. Um louco que de repente se apercebe da sua insanidade fica são, e da mesma forma quando nos apercebemos da insanidade em que vivemos as nossas vidas, elas transformam-se para nunca mais voltarem a ser as mesmas. E quando nos afastamos dessa insanidade, desse aprisionamento, mais clara é a nossa visão dela. Quanto menos nos identificamos com a falsidade em que vivíamos, melhor a reconhecemos nos outros.
Quando nos tornamos mais conscientes, tornamo-nos menos condicionados, e o condicionamento nos outros torna-se transparente aos nossos olhos. No entanto, esse condicionamento fica muitas vezes além dos horizontes daqueles que não se conhecem, que não são conscientes acerca de si próprios. Expor alguem ao seu próprio condicionamento é uma tarefa infrutífera, pois a consciência só advém da nossa compreensão dos fenómenos.
Quanto mais observamos e compreendemos profundamente a falsidade e o medo em que está imerso o mundo, mais se torna impensável para nós participar nessa tragédia. Temos medo do passado, medo do futuro, medo de nós próprios, medo dos outros, mas estes medos não são claros para quem permanece ignorante acerca de si próprio. Vivemos sobre o manto do olhar dos outros, usando máscaras e armaduras, mais uma vez devido ao medo que nos habita. Quando isto se torna claro para nós, torna-se também inaceitável, e partimos em busca da liberdade e da autenticidade.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Closer to reality

Quando duas chamas de consciência se tocam, gera-se uma chama tão intensamente brilhante, maior que a soma das duas... e a chama não volta a ser a mesma... possui em si um toque da outra, possui uma nova qualidade... uma qualidade partilhada de compreensão da vida.
Consciência atrai consciência e contagia com consciência... e o mundo não volta a ser o mesmo.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Quem sou eu?

Em que consiste a felicidade? A felicidade é o derradeiro estado de espírito, em que todas as nuvens se afastam, e o brilho dos raios solares invade o nosso céu interior. E essas nuvens nada mais são que pensamentos e interpretações. Apenas o que possamos pensar acerca da vida ou a forma como interpretamos o que nos rodeia determina a infelicidade. Em última instância, a felicidade é sempre uma decisão nossa. Isso não invalida, no entanto, que os factores externos possam influenciar essa busca da felicidade, tornando-a mais fácil ou mais difícil. Se a nossa envolvente é um turbilhão de energias negativas, ou se consiste em acontecimentos que se opõem àqueles que fomos formatados para acreditar que são os nossos ideais, é necessária uma maior força interior para atingirmos a felicidade. Se tivermos uma envolvente propícia ao bem estar, será mais fácil atingirmos esse estado de equilíbrio interior. Mas volto a repetir: em última instância, a felicidade depende sempre da nossa forma de abordar ou interpretar o que nos rodeia, é uma harmonia e uma paz interior de uma fragilidade sólida, de uma delicadeza robusta, de uma sensibilidade impenetrável.
Disto conclui-se o óbvio: uma pessoa que consiga criar um contexto externo adequado ao seu ser, conseguirá mais facilmente atingir a felicidade. MAS nunca atingirá a felicidade total se descurar o seu mundo interior. Por mais fértil que seja o terreno, e por mais que se regue, e por mais que o sol brilhe, a flor nunca vai florescer se não plantarmos a semente. E a semente, no nosso caso, é o auto-conhecimento. Mas não um auto-conhecimento crítico/opressivo. Se ao ganharmos maior conhecimento de nós próprios formos julgando e reprimindo aquilo que julgamos errado... Se formos recalcando aquilo que, segundo as ideias da sociedade, está incorrecto, estaremos não só a negar uma parte de nós, mas pior, estaremos a varrer o pó para debaixo do tapete. O chão nunca ficará limpo desta forma. A sujidade continua lá, mas escondida. A repressão é uma barragem que cede mais cedo ou mais tarde, e que nos priva da nossa felicidade a um nível mais imediato e mais profundo do que pensamos. Esconder partes de nós debaixo do tapete do inconsciente apenas fará com que essas mesmas partes venham à superfície sob outra forma.
Portanto, o verdadeiro auto-conhecimento é livre de julgamento, e assim livre de repressão. O verdadeiro auto-conhecimento tem como outra face uma profunda aceitação. Mas não uma aceitação passiva, e sim uma aceitação construtiva. Construírmos os alicerces da nossa força sob um pântano, fará com que esta não seja estável, e não seja verdadeiramente forte. Se reprimirmos as nossas falhas e fraquezas, se as negarmos, nunca poderemos melhorar. Temos de olhar de frente os nossos defeitos, aceitá-los, e então nessa base de aceitação poderemos construir algo de belo, algo com raizes profundas.
Quando deixamos de reprimir facetas do nosso ser, sentimo-nos flutuar. Quando começamos a deixar transparecer quem realmente somos, começamos a sentir os primeiros aromas de liberdade.
E mais importante que tudo: se acreditarmos que já sabemos tudo, pararemos de aprender. Temos de nos limitar a uma sábia ignorância, e nos manter permanentemente abertos ao crescimento, e o mesmo se aplica ao conhecimento de nós próprios. Por isso, se à partida julgarmos saber muito sobre nós próprios, especiamente sobre os nossos defeitos, estaremos a fechar as portas de um auto-conhecimento mais profundo, porque o poço da melhoria é muito, muito fundo. Se acharmos que nos conhecemos bem, provavelmente sabemos muito menos do que pensamos. Quando deixamos de ser presunçosos e nos abrimos a mais descoberta, começa a jorrar a fonte do auto-conhecimento duma forma surpreendente. E essa será a semente que germinará em felicidade, pois como poderemos ser nós próprios e genuínos se não nos conhecermos? E como poderemos ser felizes se nos traírmos a nós próprios, abandonando o prazer de ser para usar uma máscara?
A vida é um rio de auto-descoberta. Aqueles que se perderem na margem morrerão sem avistar o mar.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Dia internacional da utopia

Hoje comemoro o dia em que um grupo de pessoas decidiu, em homenagem à dignidade e aos direitos inerentes a todos os seres humanos, e com vista a promover a paz e a justiça no mundo, criaram a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Deixo à reflexão de quem decidir dar uma vista de olhos neste tratado humano.
E agora um minuto de silêncio por todos aqueles que, sendo seres humanos como qualquer um de nós, com direito à sua dignidade e à sua busca de felicidade, tal como nós, sofrem todos os dias, por opressões e censuras, quer sejam a nível político, religioso, ou individual, dentro de diversas sociedades, quer seja entre povos diferentes, a um nível mais profundo de falta de solidariedade e fraternidade, e de imensa desigualdade.
A vós, irmãos...

domingo, 9 de dezembro de 2007

A lâmpada fundida

A solução para a transformação interior, que nos torna independentes do exterior está na consciência. Esta consciência é a qualidade que nos permite estabilizar o nosso interior, através de um contacto profundo, e isso reflectir-se-á no nosso exterior, na nossa vida. Um interior puro e sereno aborda a vida de forma pura e totalmente serena.
E o que é essa consciência? Mais um conceito abstracto e, como tal, de definição controversa. Para alguns o estado de consciência é um estado de atenção, de observação do momento presente, sem nos deixarmos alienar por perturbações mentais muitas vezes originadas em imaginações passadas ou futuras. Esta atenção totalmente consciente não se foca apenas no que nos rodeia, mas também a nós próprios.
Na consciência de nós próprios e na nossa aceitação total de tudo em nós, sem repressão dos aspectos negativos, encontra-se a base da criação de um bem estar na nossa relação connosco próprios. E isso não é possível enquanto não temos a capacidade de estarmos a sós connosco, quando o nosso estado é um constante aborrecimento e dependência permanente do exterior.

Tive o prazer de ler um excerto de um livro do Arno Gruen, que se chama "A traição do Eu", onde é referido exactamente isso: que somos demasiado dependentes de estímulos exteriores, por vivermos numa cultura "fast" e sociedade fast. Que somos bombardeados por estímulos externos de satisfação rápida, o que nos impede de criarmos um mundo interior, onde nos relacionamos connosco, e interagimos constantemente e profundamente com os nossos sentimentos.
Optamos pelo mais rápido e fácil, e é isso que nos destroi. Esse constante bombardeamento de estímulos superficiais que nos fazem sentir vivos, no fundo conscientes, mantém a nossa atenção no exterior, negligenciando o nosso interior, e tornado-nos verdadeiros fast addicts. O fugir de nós, das nossas insatisfações e medos mais profundos, não só não é uma solução, como gradualmente destabiliza a nossa harmonia. Temos de olhar para dentro, olhar com olhos de ver, ver e aceitar tudo em nós, mesmo os medos e "fraquezas", e só aí se poderá começar a construir um templo interior de culto da paz.
No estado em que nos encontramos actualmente acabamos por ser computadores, e o teclado e o rato estão nas mãos de um conceito abstracto chamado de sociedade. Mas no fundo, a sociedade é formada por nós, e apenas nos dá aquilo que queremos. O mesmo se passa com a religião e a política. Apenas nos fornecem a segurança ou pseudo-segurança que procuramos. Só vendem o produto que o consumidor procura, é uma questão de puro marketing. Antes de criticarmos padres e políticos por nos manipularem, devemos criticar as pessoas que inconscientemente pedem para serem manipuladas. Mas além de qualquer crítica, devemos a um nível mais fundamental olhar para nós e tranformarmo-nos, de forma a deixarmos de contribuir para essa inconsciência colectiva.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Beco sem saída

Problemas...
Temos tantos problemas, tantas preocupações e tanto sofrimento. A vida é difícil, apresenta-nos tantas dificuldades e contratempos. Vivemos num estado constante de sacrifício do presente, partilhando esperanças de encontrar a felicidade no futuro. Mas quando o futuro se torna presente, vemos que a felicidade se voltou a distanciar para um futuro distante. Conformo-me com a minha infelicidade agora, sofro, para que no futuro consiga ter tudo o que me vai trazer felicidade. O futuro chega e transforma-se em presente... e atingimos a felicidade? Ou continuamos infelizes, com problemas e preocupações, e adiamos a felicidade para outro momento futuro? Parece-me que seja mais a segunda hipótese.
Quando tiver o meu emprego e um rendimento estável... aí sim vou ser feliz e os meus problemas e preocupações vão desaparecer. Ou será quando atingir um patamar elevado de poder, prestígio? Ou quando tiver todo o dinheiro e bens materiais que julgo serem suficientes?
Julgamos que as pessoas são infelizes devido à sua situação de vida, julgamos que os nossos problemas são o resultado das nossas circunstâncias de vida. Vamos analisar isto: uma pessoa pobre tem problemas... uma pessoa rica também... uma pessoa que faça aquilo que gosta profissionalmente também... pelos vistos TODA a gente tem problemas! Ou não? O mais provável é que qualquer um de nós, mesmo que visse todos os seus desejos realizarem-se, continuasse a ter problemas, e a sentir que faltava algo para a sua realização.
Então sendo assim, não será lógico que a origem dos nossos problemas não se deve às circunstâncias da nossa vida? Se todas as circunstâncias diferentes têm problemas associados, o mais provável é que assim seja. Então qual será a raiz dos nossos problemas? Não é muito difícil encontrar uma pessoa cuja situação de vida seja mais pobre exteriormente, e que seja mais feliz que outras com uma vida exterior rica. O que me parece, após estas considerações, é que a felicidade é algo interior.
Segundo vejo, o verdadeiro problema somos nós. O verdadeiro problema é o nosso desiquilíbrio interior, turbulência e desarmonia interior, que originam a infelicidade que tanto abunda no nosso mundo. E obviamente que essa infelicidade interior se reflecte no exterior. Ou seja, os nossos "problemas" são apenas consequências da nossa desarmonia interior!
Então não será lógico e racional deixar de procurar remediar a nossa vida através de mudanças no exterior? Se a causa dos problemas é interior, porque tentar resolvê-la através de constantes "melhorias" do nosso mundo exterior? Talvez o ganho de poder, prestígio, dinheiro, e todo o tipo de bens materiais faça parte de uma busca sem fim e infrutífera. Se assim é, porque não orientarmo-nos para resolver os problemas na sua origem, transformando o nosso interior, de forma a que, independentemente da nossa situação de vida, sejamos felizes.
O epicentro deste terramoto somos nós. Os nossos chamados problemas são o hipocentro, ou seja, um simples reflexo superficial do que se passa a níveis mais profundos, dentro de nós. Se o alicerce de um edifício está mal construído, por melhor que seja a sua estrutura superior, nunca será verdadeiramente estável. A mudança eficaz deve ser profunda, deve ser na origem.
Então, se a origem dos nossos problemas somos nós, até que ponto podemos considerar reais esses mesmos problemas?

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Jingle Bells

Vou permitir a mim próprio, apesar de não ser católico, nem religioso... intrometer-me numa das tradições cristãs, e enviar uma carta ao barbudo que se vendeu à coca-cola.
Caro traidor, este ano gostaria de encontrar algumas coisas na minha meia pendurada na lareira. Não tenho lareira, e se tivesse nunca seria um local onde penduraria meias... mas continuando:
Há coisas que gostaria que mudassem.
Sou uma pessoa que não se chateia por ter como valor máximo a tolerância. Tolero o que vai contra a minha perspectiva pessoal do mundo que me rodeia. Tolero mesmo tudo aquilo que não compreendo, pois quem sou eu para sobrevalorizar o meu insignificante mundinho psíquico pessoal, em detrimento dos mundinhos dos outros. Devo aceitar e respeitar tudo o que faz sentido para quem quer que seja. Da mesma forma que tento aceitar todas as circunstâncias com que me deparo, sem criar resistência à realidade, e consequentemente sem criar nenhum tipo de conflito ou desarmonia interior.
No entanto, e apesar do que muitos pensam, aceitação não é letargia, não é cegueira, não é passividade extrema. Uma coisa é respeitar as coisas pelo que são, e outra coisa é ser acrítico. Tenho uma opinião pessoal que exprimo e espero que seja respeitada assim como valorizo as dos outros. Sou feliz, vivo satisfeito de forma quase permanente, no entanto, e obviamente, há coisas que poderiam mudar para melhor, na minha opinião.
Portanto vê lá se desencantas o seguinte, e não te esqueces de trazer da próxima vez que passares na minha chaminé. E mais uma vez, não tenho chaminé.

Quero um mundo em que as pessoas deixem de viver centradas no seu ego. Copérnico já há muito tempo que desenvolveu a sua teoria heliocêntrica, por isso desejo um mundo em que as pessoas abram os olhos. Um mundo em que consigam enxergar o horizonte para além da ponta do seu nariz. Somos 6 biliões, num minúsculo planeta comparado com a imensidão do universo... e quase todos desses 6 biliões se consideram o centro do universo.

Quero um mundo em que as pessoas consigam sair da sua esfera pessoal de percepção do que as rodeia, e consigam olhar o mundo de forma mais objectiva, clara, contextualizada, mais complexa e também mais simples. Que consigam sair de si, colocar-se no lugar dos outros e compreender verdadeiramente o outro ser. Mas não na teoria, e sim na prática. Na prática, quando temos tendência para nos chatearmos com alguem por algo que fez, por exemplo. De dentro da nossa casa no vale não sabemos o que é o vale, por isso mais vale estarmos calados... quando escalamos cada uma das montanhas que circundam o vale, e obtemos diversas perspectivas, diferentes da nossa original, sobre o vale, aí sim subimos na escala da razão e crescemos como seres Humanos com H maiúsculo.

Quero um mundo onde as pessoas se ouçam umas às outras. E na base desta necessidade está mais uma vez o egocentrismo. Como diria Martin Luther King "I have a dream"... eu sonhei com um mundo onde as pessoas deixam de pensar só em si, e de falar só de si, e de avaliar tudo em função de si. Sonhei com um mundo onde as pessoas se importam realmente com o que os outros pensam e sentem. Será pedir demais? Provavelmente... mas até que morra a última sogra, continuarei a ter esperança!

Contribuam para a abolição de todas as fronteiras, em especial as fronteiras que separam o indivíduo dos seres com quem se pseudo-relaciona. Deixem de viver fechados em vós, amem-se verdadeiramente! Não falo de um amor de palavras vazias, de um amor racional, de interesse, de prazer ou de conformismo... falo de um amor verdadeiro, fluído e infinito, sem causa ou origem, e de destino indeterminado. Emana em todas as direcções, sem escolher o que atingir, nem esperar algo em retorno.

Irmão Natal... sim, irmão... porque num mundo onde somos todos iguais e todos irmãos, és mais meu irmão que meu pai. Até ver o teu cariótipo e ter provas do contrário, pelo menos. Caro irmão... não serão precisas mais palavras concerteza. Fico à espera... esperarei até que a minha "lareira" se apague...

sábado, 1 de dezembro de 2007

Transformação de consciência

Para verdadeiramente nascer para a vida, é necessária uma grande viagem interior.
É necessária uma viagem de compreensão de nós próprios. Esta viagem tem por base uma observação profunda do que se passa dentro e fora de nós: dos nossos pensamentos e emoções, dos nossos comportamentos e motivações, e de todas as barreiras que ofuscam a nossa luz inata. Esse exercício de observação, quando aprofundado, permite identificar processos imperceptíveis ao observador comum.
A observação continuada de nós próprios permite compreender o carácter mental, nas suas vertentes compulsivas, que nos impedem de gozar o momento presente, e viver profundamente. A vertente compulsiva da mente reside na falta de silêncio interior, e logo de serenidade e paz. A mente compulsiva é aquela que não cessa nem por um segundo, seguindo uma cadeia infindável de pensamentos quase sempre perfeitamente desnecessários. E só observando e compreendendo isto é possível acalmar os pensamentos, e tornar a mente um lago calmo e silencioso.
Esta compulsividade de pensar, está intimamente relacionada com a necessidade de auto-fortalecimento constante por parte do ego. Compulsividade de criar uma identidade e uma imagem social, de forma a sentir segurança e sentir-se inserido no meio social, ser aceite. Compulsividade de buscar ou ansiar por algo mais que o presente, projectando-se constantemente no futuro, fomentando uma esperança que nos desvia da única realidade: o presente. O ego precisa de uma auto-imagem, e de uma auto-imagem forte. E a mente precisa de algo que lhe dê esperança e razão para viver. Mas essa auto-ilusão distorce o nosso comportamento natural, condicionando-o, e retira-nos a capacidade de viver o presente.
Mas todos estes processos são, na maior parte das vezes, inconscientes e automáticos. E, quando através da observação, nos consciencializamos do que se passa dentro de nós, a luz da nossa consciência expulsa essa escuridão mental, e dissolve gradualmente todas essas barreiras à liberdade de ser e viver.
E essa observação faz-nos compreender que todas as barreiras à nossa liberdade são mentais, que somos condicionados e na maior parte das vezes inconscientes, que somos sonâmbulos e autómatos devido à existência de uma identidade falsa que condiciona o nosso comportamento. O ego vive do conhecimento e da experiência, ou seja do passado. Todas as suas acções são condicionados por esse passado, e tornam-se gradualmente autómaticas, o que estimula o pensamento compulsivo, e nos impede de sentir o prazer de estar vivo.
A verdadeira identidade não tem barreiras. A verdadeira identidade está centrada no presente, de forma incondicionada. Ama o presente como se não houvesse amanhã, e morre para o passado a cada momento que passa. A sua luz brilha sem nenhum tipo de amarras.

Inominável

Quem sou eu?
Uma cadeia estruturada de símbolos de raizes perdidas no tempo, estudada pela linguística e associada a um conjunto de fonemas? Mas até que ponto posso dizer que isso sou eu, se foi algo que me deram? Então é meu, não sou eu.
Nacionalidade? O que é isso? Dizem que é uma restrição a um campo delimitado por linhas imaginárias. Então se são imaginárias, que me interessa? Só prezo o que é real... Nacionalidade é resultado de guerras e conflitos, e guerras e conflitos nunca levam a bom porto. A divisão nunca gera paz, a união sim.
Temos muitos rótulos... desde relativos a ideologias políticas, religiosas, ou pseudo-pessoais, a um universo infinito de outros mais. O número de rótulos nunca acaba. Mas o rótulo é uma separação, separa o que lhe pertence do que não lhe pertence. O rótulo é um obstáculo à união, e não é definitivamente a nossa identidade. O rótulo é algo superficial que nos limita grandemente na forma de percepcionar o mundo. Os produtos no supermercado são rotulados... mas o rótulo não é o produto, é apenas uma forma de identificar o produto. Mas em relação aos seres humanos há uma ligeira gigantesca diferença: enquanto que os produtos no supermercado podem ser agrupados, pois são iguais entre si, os seres humanos não devem ser rotulados e agrupados, pois não há dois seres humanos iguais.
Então se toda a identidade que conheço se resume aos rótulos que me foram colocados desde que nasci, quem sou eu?
Se calhar não sou ninguem...
Se calhar apenas sou...
Quem sabe a minha existência não pode ser descrita por palavras
Quem sabe sou puro amor
Quem sabe sou pura energia
E o amor é essa energia
Para quê dar nomes às coisas?
As coisas não existem para serem nomeadas e pensadas
Existem para serem sentidas, para serem absorvidas
Sinto e sou
Sinto e sou feliz assim
O sol não se questiona sobre quem é, de onde vem e para onde vai...
Porque hei-de me questionar eu, se nada mais sou que o sol, e a lua, e todas as estrelas...
O êxtase da vida é deixar cair a falsa armadura, pois não há nada de que se defender...
É deixar cair a farsa do pensamento, que destroi tudo o que é...
É sentir a união com o mundo, tal qual gota de orvalho que é absorvida pelos primeiros raios de sol para voltar à origem...
É ser como o rio e fluir naturalmente para o regaço do mar, de encontro ao seu destino.
Quem sou eu?
Todas as respostas possíveis a essa pergunta destroem-me como ser. A resposta é a ausência de resposta.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

O todo e mais um

Mil milhões de átomos de hidrogénio e oxigénio ligados e condensados num estado líquido, límpido e infinitamente belo.
Um infinito de clorofila amontoado, com vida a percorrer todas as suas moléculas, sob a forma de seiva, num leque de verdes tornados amarelos pelo brilho do sol poente.
Um mar azul gradualmente mais escuro, reflectido na eternidade dum lago...
E o dia vai-se...
Os raios luminosos recolhem-se tal qual onda do mar que se retrai perante as imponentes areias para mais tarde voltar à carga, mutando a realidade, e dando lugar a um brilho reflectido, ténue e noctívago.
Perfeito...
Simplesmente natural...
Perfeito é natural?
Será a natureza perfeita?
A natureza é perfeita, mas contém o Homem, e o Homem não é perfeito...
Duvidar da perfeição da natureza?
Ou crer nessa perfeição, duvidando antes do carácter natural do Homem?
Talvez do carácter natural da maior parte dos Homens, que se afastam da sua natureza, da natureza...
Este vírus impregnado de avidez consome a perfeição que o rodeia, autocorrompendo-se eternamente numa busca inconsciente de extinção que fechará o ciclo, e devolverá a perfeição à natureza.
Ser natural é não ser, ser natural é sentir...
Ser natural é abdicar da dor de pensar, apenas existir...
É integrar-se no todo, voltar à origem, fundir-se com a perfeição de mil milhões de átomos condensados a níveis diferentes... pura energia.

sábado, 17 de novembro de 2007

A gula do ego

O Homem vive numa busca constante. A sua mente parte permanentemente numa busca de algo que faça crescer o seu ego de alguma forma. Aquilo que com que nos identificamos torna-se parte do nosso ego. Identificarmo-nos com entidades superiores a nós acresce uma grande parte ao nosso ego, pessoas e ideologias partilhadas também, mas os simples ganhos da nossa vida também o fazem. Ganhos materiais, ganhos mentais e emocionais dão-nos uma sensação passageira de bem-estar, porque nos identificamos com o que ganhamos, e o nosso ego se sente maior, mais complexo. Essa sensação de bem-estar rapidamente desvanece, sendo aquilo que foi ganho desvalorizado, vulgarizado, e dando origem a um reacender da busca de algo novo, originada pela constante sede do ego de se fortalecer. Mas este ciclo não tem fim...
E este ciclo não tem sentido, pois não leva à realização plena, apenas se prolonga ao longo das nossas vidas. Leva a uma realização que é instável e não é livre, por depender se factores externos, e do constante alimentar do ego.
Quando se compreende a futilidade desta busca, e se está atento a esse impulso constante de procura, começa-se a abandonar o ciclo, e assim essa busca. Essa observação de nós próprios permite um estado de presença mais intensa, de satisfação e realização plenas. A orientação deixa de ser de busca de algo mais, e passa a ser de contemplação do que temos e do que já somos. A realização passa a ser o facto de estarmos vivos...
Essa realização é verdadeira, logo estável, plena e independente de tudo o resto.

domingo, 4 de novembro de 2007

Uma questão de rédeas

Um dos maiores erros que podem ser cometidos, na minha opinião, é a crença na incapacidade das pessoas de controlar o que paira nos seus domínios mentais. Um crença conformista em que não nos é possível determinar a nossa forma de pensar e, consequentemente, moldar a nossa personalidade e a nossa vida. Está ao nosso alcance o domínio mental que nos permite controlar os nossos pensamentos, eliminando de vez frases como "não consigo parar de pensar nisto" ou "não vou conseguir". Quando detemos um determinado domínio mental, temos cada vez maior capacidade de escolha daquilo que pensamos perante as circunstâncias com que nos deparamos, daquilo que pensamos de nós e de tudo o que nos rodeia.
Quando atingimos este nível de domínio mental, conseguimos adoptar uma perspectiva optimista, que derruba grande parte das limitações à nossa felicidade e realização pessoal. Perante determinada circunstância, escolhemos adoptar um tipo de pensamento positivo, e com o tempo criamos um hábito de pensamento positivo constante. E o pensamento positivo dá-nos força, fortalece a nossa crença em nós e no poder e alcance das nossas acções. Tomemos por exemplo uma situação em que nos deparamos com uma dificuldade: um pessimista que tem uma abordagem negativa, mais facilmente se sente desencorajado que um optimista, que transforma a dificuldade em desafio, com o poder do seu pensamento positivo, e sente uma força a crescer dentro de si, uma motivação para ultrapassar esse desafio.
O poder do pensamento positivo não tem fim. Potencia as nossas capacidades, aumenta o nosso bem estar geral, e aumenta a nossa longevidade. Com tão grandes vantagens em relação à abordagem pessimista, muitas vezes me questionei porque as pessoas não escolheriam pensar assim sempre... e não encontro outra resposta que o facto de não saberem ou acreditarem que podem escolher o que pensam a todo o momento. A nossa mente não tem necessariamente de ser um projector automático de pensamentos, sendo possível assumir o controlo.
E, como os nossos pensamentos se reflectem na nossa vida, como a qualidade dos nossos pensamentos se reflecte na nossa qualidade de vida, a partir do momento que começamos a dominar a forma como pensamos, começamos a ter maior controlo sobre a nossa vida, e a começar a obter dela o que pretendemos. O conjunto dos nossos pensamentos, da nossa forma de pensar, forma um paradigma em relação ao mundo que nos rodeia, que determina a nossa interpretação, postura e acções em relação a esse mesmo mundo. O importante é perceber que esse paradigma não é imutável, podendo ser moldado a nosso gosto, afectando consequentemente a nossa interacção com o que nos rodeia. E uma das bases fundamentais de um paradigma bem sucedido é o optimismo, que mantém o ânimo e a determinação, que mantém a crença... e aquilo em que acreditamos torna-se real para nós...
Controla os teus pensamentos, e controlarás a tua vida.

domingo, 21 de outubro de 2007

Ensaio sobre a falta de genuinidade

A vida é um palco, onde os verdadeiros actores são aqueles que não encarnam nenhuma personagem...

Nascemos, crescemos, somos educados, somos programados, e padronizados, e condicionados. Alguns desses processos são conscientes, outros inconscientes. Algumas pessoas chegam a uma altura na sua vida em que se consciencializam, outras morrem sem sequer sonhar. Algumas acreditam que é possível e tentam mudar, outras não acreditam, ou abafam a crença sob a poeira do conformismo.
Uma coisa é certa, a interacção com as outras pessoas, como parte integrante do processo social inerente aos seres sociais que somos, leva ao condicionamento dos nossos pensamentos e acções. Somos influenciados e levados a pensar como outros, para que nos possamos integrar em grupos. Nada do que aqui afirmo, afirmo como universal, porque acredito profundamente que toda a regra tem excepção. Mas não será uma das necessidades mais fundamentais do ser humano a de aceitação e a de integração num grupo, que acaba esta última por estar também relacionada com a necessidade de aceitação? E não será o maior dos medos humanos o medo de ser rejeitado, que por sua vez também poderá estar relacionado com a mesma necessidade de aceitação (ou falta dela)?
Julgo que essa necessidade de aceitação/medo de rejeição é o que leva em grande parte ao moldar do nosso pensamento, para fazermos parte de algo maior que o nosso ego. Será que o ego ao se associar (seja por pensamentos ou comportamentos similares) sofre alguma espécie de expansão? Ao expandirmos de certa forma o nosso ego ao nível do ego de outra pessoa, ou de um grupo, isso conferiria concerteza uma maior sensação de segurança, ou não será a crença partilhada motivo de fortalecimento da crença própria? Quanto mais pessoas acreditarem naquilo que acreditamos, mais seguros nos sentimos em relação a essa crença!
Entao, e resumindo, a necessidade de aceitação/medo de rejeição/necessidade de afirmação das nossas crenças, poderá estar na base de grande parte do mimetismo social, ou não?
Não sou um investigador em Psicologia. Nunca apliquei o método de investigação científico na minha aquisição de conhecimento sobre as pessoas. Mas sou uma pessoa que acredita que a Psicologia do senso comum, com todas as suas fragilidades, e em toda a sua falibilidade, nos pode indicar o caminho, e nos pode dar algumas ideias de como funcionamos nós e os outros, de como nos comportamos, e de como nos inserimos neste mundo.
Acabo então por ser um observador, que observa e teoriza. Que teoriza, mas não testa. Mas apesar do carácter falacioso da nossa interpretação e compreensão (condicionada, subjectiva) julgo que podemos através da observação e da nossa própria interpretação ter uma ténue ideia do que se passa à nossa volta.
Após um longo período de observação, não conclui, mas duvido que somos actores sociais. Penso que somos actores que interpretam diversos papéis. Não estou a falar da interpretação de um papel como variável (dificilmente operacionalizável) observada de forma "inter-sujeitos", mas sim "intra-sujeitos". Vou explicar:
Não digo que cada um de nós interpreta um papel na sociedade e na vida. Refiro-me ao facto... perdoem a minha falta de precisão: refiro-me a possibilidade de cada um de nós interpretar mais do que um papel na sua vida. É uma teoria baseada em muita observação. Concerteza que não se aplica a toda a gente. Mas, se entre toda a amostra de sujeitos se verificou essa variação de comportamento perante situações e pessoas ou grupos diferentes, e se a amostra observada for representativa (o que acho que é, visto ter tido contacto com todo o tipo de pessoas ao longo da minha vida), julgo que podemos afirmar que o mesmo se passará com a população. Não irei tão longe ao afirmar que se passará o mesmo com a população humana, por agora limitar-me-ei a teorizar sobre a sociedade onde me insiro.
Insegurança em relação a nós próprios, e dependência de uma busca de segurança na partilha de crenças e comportamentos por parte dos outros?
Objectivos diferentes em situações diferentes?
São hipoteses, mas o certo é que vejo que as pessoas mudam de máscara ao longo do dia, ao longo da vida.
Penso e, mais uma vez não passa de um mero ponto de vista subjectivo, que é uma traição a nós próprios, uma falta de honestidade para connosco, não assumirmos uma integridade, uma homogeneidade ao nível do nosso ser. Mas também compreendo que, quando as pessoas não sentem a segurança necessária, é mais difícil serem coerentes. Julgo que o auto-conhecimento é fundamental para essa segurança, mas também a auto-aceitação e amor-próprio, que nos tornam mais independentes da aceitação e admiração dos outros.
A maior perda da vida é a perda de nós próprios. A maior queda é a queda de um ser genuíno que o deixa de ser. Vamos subir ao palco da vida, vamos brilhar, mas sem colocar nenhuma máscara. Vamos ser os maiores actores, mas encarnando a nossa única e incomparável personagem. Vamos despir todas as roupas e todas as pelas, e sentir o calor da realização de sermos nós próprios...

Paradoxos

O verdadeiro defensor da ciência e do conhecimento científico não aceita paradoxos. A verdade tem de ser testada e compreendida, e não pode conter em si uma antítese. O paradoxo é um conhecimento incompleto, que deve ser refinado até que deixe de existir.
Mas a vida não é, nunca foi, e nunca será uma ciência...
A vida é uma arte, a vida é a arte... A vida é algo complexo, abstracto e paradoxal, cuja essência não pode ser compreendida aos olhos dissecantes da ciência. A ciência é uma filosofia fundamental para que a comunidade humana percorra a estrada do conhecimento, e evolua na sua vertente física: no desenvolvimento tecnológico, na aquisição de um maior bem estar físico, de uma maior capacidade de combater as enfermidades físicas da vida e aumentar a nossa longevidade... no fundo, na direcção do critério mais básico da nossa existência - a sobrevivência.
Mas a vida não é sobrevivência... a vida não se pode reduzir ao bem-estar físico... a vida quando dissecada não pode ser compreendida. Aliás, a vida é intrínsecamente ininteligível, e mais profundamente incompreensível se torna quando a dissecamos, compartimentamos, especializamos: o verdadeiro conhecimento, ou melhor, a verdadeira sabedoria, resulta do confluir de todos os conhecimentos e de todas as áreas, na maior abstração possível, originando uma fusão inalcançável pela análise: a vida.
A vida é um processo inteligente, infinito no tempo e no espaço, inatingível pela limitada mente humana. O coração, quanto antes, poderia ter um relance dessa perfeição, dessa luz imensa, mas ainda assim a vida não consegue ser totalmente absorvida pelos domínios do coração. Será possível de alguma forma atingir uma percepção dessa realidade misteriosa, perfeita, neutra, mágica, que é a vida?
A vida é uma arte, a vida é abstracta, e logo situa-se mais próxima de tudo o que é artístico e de tudo o que é abstracto, e mais longe dos domínios da mente e da razão. O poeta, o músico, o pintor, o bailarino, encontram-se mais perto da vida... Estes criam vida. O poema, a música, a dança, a pintura, são relances do todo que é a vida. E todas estas artes estão imersas na essência da vida que é o amor.
A vida pode ser dissecada até à mais ínfima partícula. Pode ser analisada pela ciência de uma ponta a outra do universo, mas isso nunca dará uma compreensão do que é a vida. O todo é mais do que a soma de todas as partes. Podemos conhecer tudo o que há para conhecer, podemos dividir e voltar a dividir cada átomo, mas nunca poderemos materializar a analisar um sorriso, a beleza, a amizade, o amor... nunca poderemos medir, comparar e avaliar a maravilhosa sensação de estar vivo... essas características da vida fazem parte dum infindável número que dá uma dimensão muito mais profunda à existência.
Na minha insignificante opinião, ou melhor, na minha opinião que é tão significante como qualquer outra, em tão curto espaço de tempo de vida, é um desperdício abdicar, por um segundo que seja, da sensação de estar vivo. É uma perda de tempo desmistificar o intrinsecamente misterioso, abdicando da realização máxima de saborear a vida, de estar vivo... de fluir, e respirar, e amar.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

A busca do alcançado

Palavras para que?
Para que falar, comentar, interpretar, julgar, avaliar o que não pode ser verbalizado?
A essência da vida não é falada, a essência da vida é o silêncio. É um silêncio interior cujo canto se expande por todas as células do nosso ser.
Qual o propósito de procurar, buscar, sonhar, ansiar, esperar...?
Qual o sentido de nos deixarmos deslocar para algo irreal como o futuro ou o passado, algo que divide o nosso ser em dois: o verdadeiro ser, aqui e agora, e uma mente fugidia que não consegue parar na única e verdadeira realidade.
A beleza e a simplicidade da vida reside na capacidade de simplesmente estar... de nos deixarmos fluir pelo rio da vida, sem rápidos nem cascatas. A maior realização consiste em florescermos na serenidade, e nos deixarmos absorver pelo momento, pelo maior bem que a vida nos dá: o presente... um presente que é uma dádiva à qual fechamos os olhos, procurando a felicidade onde não pode ser encontrada.
Sento-me à janela... que céu tão límpido e perfeito, que estrelas tão fogosas habitam neste universo, mar de tranquilidade. Que felicidade por estar aqui e agora, que alegria de ser...
Viver é um privilégio e um fim em si. A vida não é um meio, pois nada mais existe digno de ser atingido. Esta insatisfação e ambição compulsiva é um mal que representa a maior das dores humanas.
Que sentido tem procurar algo que já temos? Qual a lógica de buscar uma felicidade que está e sempre esteve dentro de nós, uma realização que desliza à frente dos nossos olhos?
Que sentido faz ansiar por algo que nos realize vindo do exterior... Que sentido faz, quando os maiores prazeres da vida são respirar, andar, dançar... Quando a felicidade está num sorriso, numa canção alegre, e no amor que cultivamos em nós....
Para quê ceder a uma mente compulsivamente ausente e desiquilibrada, insatisfeita e ambiciosa?
Se temos tudo o que precisamos para ser felizes... para que procurar mais?

domingo, 14 de outubro de 2007

Regresso à inocência

Love - devotion
Feeling - emotion

Love - devotion
Feeling - emotion

Dont be afraid to be weak
Dont be too proud to be strong
Just look into your heart my friend
That will be the return to yourself
The return to innocence

If you want, then start to laugh
If you must, then start to cry
Be yourself dont hide
Just believe in destiny
Dont care what people say
Just follow your own way
Dont give up and use the chance
To return to innocence

Thats not
the beginning of the end
Thats the return to yourself
The return to innocence

Dont care what people say
Follow just your own way
Follow just your own way
Dont give up, dont give up
To return, to return to innocence.
If you want then laugh
If you must then cry
Be yourself dont hide
Just believe in destiny

by Enigma


Amor... o sangue da vida
A essência que nos nutre,
e que flui nos corações
obscurecidos pela razão

Devoção... a todos os que nos rodeiam.
Devoção ao nosso ser único e livre
Devoção a toda a existência que nos rodeia
Devoção ao eterno momento presente.

Amor, mas um amor livre
Um amor que une mas não aprisiona
Um amor que reside na contemplação
Admira e respeita, mas não possui

Sentimento... além da razão
Constante sentimento de estar vivo,
De gratidão a cada segundo que passa,
que foge do domínio das palavras

Emoção rebelde e incondicionada
Procurar uma liberdade
E almejar uma verdade
em nós enraizada e perdida

Não ter medo de ser fracos... pois esta fraqueza, ilusão gerada pelo medo, nada é mais que a insegurança de uma identidade perdida de si. A nossa verdadeira identidade, essa, transborda de segurança e sorri de liberdade. É uma força impenetrável e inabalável que reside dentro de nós, e além de nós.

Não ter orgulho em ser forte... admirando de igual forma a força presente em tudo o que nos rodeia. Não ter orgulho em ser... apenas limitar-se a ser e deixar ser. A nossa força é uma força subtil, suave, delicada, como a força da flor que cresce, que não pode ser destruída a partir do exterior, mas pode ser envenenada com orgulhos vãos, medos vazios, prisões ilusórias...

Apenas olhar para dentro do nosso coração, pois aí reside a porta para a felicidade de estar vivo. No coração a ponte que nos liga ao patamar mais alto da existência. Escutar antes coração que razão, mas não se deixar escravizar pela emoção, e...

...então dar-se-á o regresso à inocência... dar-se-á um reencontro já reencontrado, com o nosso ser há muito perdido. Inspira-se verdadeiramente liberdade e expira-se vivamente amor. Surge a inocência sábia, a infantilidade madura, a capacidade de voltar a ser quem sempre fomos, longe de fronteiras impostas do exterior.

Chorar ou rir? O segredo está na aceitação total do nosso ser. Está na capacidade de nos deixarmos fluir, e apenas observar... E na observação encontra-se a transcendência de todo o choro ou riso superficiais, dando origem a uma sorriso interior, profundo, silencioso e eterno.

Sê tu próprio, não o escondas. Não mintas a tí próprio... Não escondas de ti próprio a tua felicidade e realização máximas. Exprime todas as tuas facetas, boas e más, à luz da consciência... e o mal desintegrar-se-á... e o bem fortalecer-se-á, e enraizar-se-á... e a segurança surgirá, e a luz brilhará, e o jardim florescerá.

Não dês demasiado valor ao que dizem de ti, seguindo apenas o teu caminho. Seguindo o teu caminho único e intransmissível, que pode apenas ser trilhado por ti, subindo os degraus dos teus erros, numa evolução de consciência.

O regresso à inocência... o regresso ao presente, o regresso à vida. Tão perto e no entanto tão longe do rebanho, até que a ovelha negra tresmalha, e no traçar do seu trilho, descobre a realização suprema, a liberdade total, a pureza da inocência intocável.

sábado, 22 de setembro de 2007

Aceito-nos, mas por favor vamos evoluir...

Aceitação não significa letargia... Considero a aceitação de nós e dos outros um factor fundamental para uma vida harmoniosa entre todos os seres humanos. Penso também que a crítica constitui uma pedra basilar do crescimento pessoal. Acho essencial aceitarmo-nos e aos outros, nas nossas vertentes positivas e negativas, compreendendo as falhas, e a respectiva humanidade de cada um. Mas uma aceitação passiva leva ao estagnar do ser: leva a que não sejamos suficientemente críticos em relação a nós mesmos de forma a crescermos contínuamente, e a influenciarmos positivamente a evolução dos que nos rodeiam. Defendo por isso uma aceitação crítica. Uma compreensão e respeito de cada ser humano na sua totalidade, com defeitos e virtudes, não só aceitando as falhas mais vulgares e logo mais facilmente toleradas, como as mais peculiares e difíceis de compreender, aliada a uma essencial crítica, que deve ter como único parâmetro obrigatório o carácter construtivo.

E onde é que pretendo chegar com isto?

Assim como uma parvoíce se torna dogma quando aceite por muitos, um defeito que seja comum à maior parte das pessoas torna-se normalidade, e assim mais difícil de detectar. Isto obviamente que não reduz a sua importância. Adoro observar... Considero a observação a maior das competências na área do crescimento pessoal e humano, porque é na observação que reside a capacidade de análise e de identificação das nossas falhas e dos outros. É ao observarmos que criamos a distância necessária a uma análise mais objectiva de nós e dos outros. É ao nos observarmos que aprendemos muito sobre nós próprios, e possibilitamos um autocrescimento constante. E é ao observarmos os outros que exponenciamos esse crescimento pessoal, podendo ainda intervir de forma construtiva no crescimento dos outros, se assim entendermos.

Todos diferentes, todos iguais? Indiscutível, na minha opinião. Não enveredarei por caminhos de defesa dos direitos humanos, defendendo a diversidade individual ou cultural paradoxalmente a uma igualdade de direitos. Falo sim de uma diversidade e de uma igualdade individuais, ao nível das mais variadas personalidades. Cada ser humano insere-se num mundo virtual próprio, tão vasto e complexo como o próprio universo – o ego. Cada ser humano nasce único, sofre a sua própria sequência de condicionamentos ao longo da sua vida, reagindo de forma diferente, e originando uma personalidade singular. Apesar destas diferenças ao nível da personalidade, podemos encontrar pontos convergentes nos padrões comportamentais dos seres humanos, regras que se aplicam a multidões, regras essas criadas e estudadas pela psicologia. Algumas dessas regras chegam a abrager um número vastíssimo, quase total da população humana. As pessoas têm todas personalidades diferentes, mas os seus processos mentais não divergem assim tanto, tornando os seus padrões evolutivos e reactivos previsíveis. É óbvio que toda a regra tem excepção, e esta regra não é excepção – há sempre pessoas que fogem ao padrão, tornando-se únicas, imprevisíveis e por vezes misteriosas aos olhos do espectador vulgar.

Na minha opinião uma das mais graves falhas dos seres humanos, e das mais comuns, é o egocentrismo. Temos tendência para sobrevalorizar a nossa existência, as nossas necessidades e desejos, os nossos sonhos e expectativas, a nossa vida no geral em relação à vida dos outros. Julgo que, e isto é apenas a minha humilde opinião, devemos procurar uma perspectiva mais equilibrada da existência, em que esses tais outros seres com quem partilhamos o palco da vida assumam uma maior porção de valorização da nossa parte.

Sou uma pessoa que tenta aceitar os outros como são mas, como disse sou também um defensor da “aceitação activa”, e também do não-conformismo. E, como tal, não consigo permanecer indiferente perante o egocentrismo do ser humano. Não sei se chegarei ao ponto de ficar triste mas, e apesar de tentar dia após dia aceitar o inevitável, sinto-me um pouco desiludido com a ilusão egocêntrica em que o Homem vive. Sou ser humano e não sou diferente dos outros seres humanos, tropençando também nessa armadilha do ego, mas apercebo-me da falácia humana através da observação, e por entre o suor do rosto e um sorriso de amor pela vida vou tentando corrigir o meu comportamento e construir pontes sobre os abismos do ego centrado em si. O fundamental é ter consciência de nós próprios e dos outros, e acho que quando isto acontece, entramos definitivamente na auto-estrada da melhoria. O problema reside na falta de consciência, na dormência de tantos seres perante si. Mas como despertá-los?

Poucos seres humanos ouvem verdadeiramente, e este é um dos tais abismos do ego de que falava. As pessoas escutam mas não ouvem. O tempo de discurso do outro ser humano é tempo de preparação para o nosso discurso egocêntrico... enquanto um burro fala, o outro baixa a orelha... baixa a orelha mas não ouve, só pensa no que vai dizer a seguir, no que vai partilhar com o outro sobre a sua própria existência. Claro que o outro muito provavelmente irá escutar, mas não ouvir – e assim se cria um ciclo.

As pessoas só querem saber de si. É uma triste evidência para o espectador atento. Obviamente que há excepções, e este é um dos casos em que a excepção devia ser a regra. As pessoas vivem tão centradas em si, que pouca ou nenhuma importância dão ao que os outros dizem ou fazem. E isto passa-se porque, e usando uma linguagem popular, não se enxergam. É a melhor expressão para descrever um estado de falta de consciência de si próprio e do seu comportamento. Um aprofundamento da nossa auto-observação evidenciaria o facto de negligenciarmos o que é importante para os outros, sobrevalorizando o que é importante para nós.

Como é tão bom encontrar uma ostra com pérola, uma estrela no céu nublado, uma pepita de ouro entre as pedras na peneira. Como é bom encontrar um ser que saiba ouvir... A maior parte das pessoas deve concordar comigo quando digo que é óptimo ser ouvido, ser escutado com atenção. No entanto, e apesar desta pretensão de obter interesse da parte dos outros em relação ao nosso ser, muito poucos o praticam em outbound – de dentro para fora! Se queres ser respeitado, respeita os outros... Se queres ser amado, ama os outros... Se queres ser compreendido e aceite, compreende e aceita os outros! 2+2 são 4, é assim tão difícil de compreender? Por entre todas as divergências com a religião cristã, “não faças aos outros o que não queres que te façam a ti” é sem dúvida um porto seguro. Se é tão bom ser ouvido, vamos verdadeiramente ouvir os outros, com interesse, e eliminar de uma vez por todas a sensação de estar a falar para um robot programado para falar dos seus transístores, do seu código base, e do seu sistema operativo! A comunicação exige linguagem, mas exige também um emissor e um receptor. Não existe comunicação sem receptor, por isso vamos de uma vez por todas começar a comunicar, e consequentemente a crescer!

Sim, eu sei... uma grande introdução e tanta divagação para chegar ao ponto fulcral da questão. Que ao contrário de abrir a mente para uma compreensão do essencial, não aborreça e faça afastar do mesmo – vamos dar aos outros aquelas coisas que mais valorizamos.

Quando a maior parte das pessoas é egocêntrica, torna-se vulgar e para muitos imperceptível, especialmente quando muitos desses muitos vivem cegos pela névoa do seu próprio egocentrismo. Abrir os olhos e observar o que se passa à nossa volta é essencial para viver de forma harmoniosa com a nossa comunidade humana. Dar aos outros o que queremos receber é o servir de exemplo, é o despertar da consciência alheia.

Vamos tornar-nos diferentes e criar uma nova igualdade, uma nova normalidade.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Demos Krathos

A democracia. Uma utopia materializada numa aplicação prática não tão utópica, por alguns criticada. Este número é, no entanto, progressivamente menor. Isto porque a democracia exige, na minha opinião, um certo grau de evolução humana, de evolução de mentalidade. Exige a compreensão da necessidade de igualdade ao nível da participação activa de cada cidadão na tomada de decisões relativas ao governo do país, da igualdade cívica e de liberdade.
Não digo que a democracia seja o melhor sistema político que poderá ser alcançado, apesar de a minha imaginação não me permitir visualizar uma alternativa melhor que a igualdade democrática. E concerteza que a democracia na prática se afasta imenso da sua perfeição (ou quase perfeição) teórica. Teoricamente falando, a democracia não tem falhas evidentes, especialmente a democracia directa. Ao contrário da democracia representativa, em que são eleitos pelo povo representantes que irão durante o seu mandato pôr em prática a vontade do povo (relembro que estou a falar do conceito teórico de democracia), na democracia directa, o povo participa directamente em todas as tomadas de decisão. Obviamente que isto exigiria um desenvolvimento tal, e uma vastidão física a nível tecnológico, que abrangesse todos os cidadãos, permitindo um voto à distância, em qualquer lugar e altura. Apesar de ser uma alternativa menos viável, julgo ser a mais justa.
Mas esta perfeição teórica do sistema democrático (directo ou representativo), pressupõe uma educação humana que alcance todos os cidadãos, de forma a que estes estejam aptos a usar o seu poder.
Não prática isto não acontece, o que associado à falta de meios para votação à distância, invalida a democracia directa. A democracia representativa torna-se a melhor opção, por ser mais viável, mas também a mais facilmente corrompível. A falta de consciência popular, e a eleição com base em preconceitos ou critérios falaciosos e irrelevantes, assim como a falta de obrigação no compromisso entre o representante e o povo, levam a que a vontade do povo acabe por nem sempre se reflectir. Mas, apesar de todas as falhas, a democracia continua a ser a ideia mais perfeita de sistema político que o Homem conseguiu criar, e julgo que, antes de criticar a sua utilização, dever-se-ia procurar formas de a melhorar.
E a única forma de a melhorar substancialmente, é melhorando-nos a nós e à nossa consciência, aplicando de forma mais consciente e verdadeira o nosso poder potencial e merecido.

domingo, 26 de agosto de 2007

Uma estrela ascendente

A mulher. Que ser maravilhoso temos nós meninos a sorte de ter como parceiras de coexistência. Um ser magnífico, que detém a chave da verdadeira forma de viver, com o coração, e vivendo uma vida vocacionada no sentido certo, o sentido humano. As mulheres são exemplos de perseverança e de força interior, pois sobreviveram, lutaram, e impuseram-se num mundo de seres que ousaram dar o seu nome à espécie. A subida da mulher foi mais tardia. Cresceu, mas sofreu sempre com a opressão masculina, e num mundo em que o homem julga reinar. Mas apesar do atraso na subida, a mulher brilha cada vez mais, e a sua subida é mais consistente e equilibrada... mais humana. A subida rápida do poder do homem terá uma queda rápida, enquanto que a subida inteligente da mulher lhe dará um longo reinado. Obrigado, mulheres, por darem côr e ternura aos nossos dias. Obrigado, anjos, por fazerem os nossos corações bater de amor por vós. Obrigado por servirem de exemplos de melhores humanos.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Crise de identidade global

A meditação é observação. É observação do nosso corpo, mas acima de tudo é observação da nossa mente, que leva à sua paragem. Quando, através da observação, ficamos a conhecer a totalidade do nosso funcionamento mental, cada parte do nosso ego, a mente para, porque já conheceu tudo e viu tudo o que havia para ver em si própria, e não se encontrou em lado nenhum. Há uma paragem quando concluimos que a nossa consciência obervadora é algo independente, que transcende a mente. Apercebemo-nos de que a identidade que julgavamos ter não é quem verdadeiramente somos... que a nossa verdadeira identidade apenas observa o que se passa em nós, numa espécie de sonho cujo despertar se chama vida. Com o auto-conhecimento atingido surge o sentimento de algo superior à mente, que observa. Quando se conhece algo na sua totalidade, é possível ter influência sobre esse algo. A mente, ao ser compreendida totalmente, fica à nossa disposição... do nosso verdadeiro Eu - da consciência. Quebra-se a identificação com a mente, desperta-se um estado superior de consciência, e a mente desce à posição de ferramenta à disposição da nossa identidade consciente.

Keep it simple

Os maiores êxtases da vida são sorrir profundamente, cantar livremente, dançar de forma liberta de medos, e amar. Dançar e cantar fazem a nossa energia entrar em perfeita harmonia. Sorrir canaliza a nossa força infinita, amar completa-nos. O canto afundou-se nas gargantas das pessoas porque os que dizem cantar foram a leilão, sobrevivendo apenas alguns bem-aventurados. O canto do ser comum seria assombrado aos olhos da opinião do povo, a sua música seria rasgada pelo olhar incisivo e crítico dos outros perante a falha. Deixou-se de cantar para buscar... para buscar a harmonia nas aguas de um rio que não tem mar, quando tudo o que é verdadeiro está na nossa nascente, uma oferenda da vida. Viver é cantar por amar, sorrir por dançar, e todas as combinações possíveis dessas quatro peças do nosso puzzle. Viver é sentir a capacidade de ser livre, festejar a cada segundo a sua simples e mágica existência, abrir a luz do coração à dança de toda a vida.

domingo, 22 de julho de 2007

Uma liberdade assustadora

A verdadeira liberdade pressupõe uma grande responsabilidade: a responsabilidade por tudo o que somos e tudo o que fazemos. No momento em que nos libertamos de todo o tipo de condicionalismos, e assumimos a nossa vida como totalmente nossa, não podemos atirar para ninguém e em situação nenhuma, a responsabilidade do que pensamos, dizemos e fazemos. Mas a verdadeira liberdade gera insegurança, pois afastamo-nos do conforto dos padrões pré-estabelecidos pela sociedade, que nos marcam desde que nascemos. Fomos condicionados e inseridos num grupo, ou grupos humanos padronizados, e de certa forma homogéneos, o que não exige grande esforço ou responsabilidade, bastando-nos seguir o rebanho para ter uma vida satisfatória, ou pelo menos tão satisfatória quanto a maioria. Falo de grupos religiosos, políticos, ideológicos, qualquer sistema de crença ou de pensamento de bases dogmáticas.

Quanto assumimos a nossa liberdade inata, quando nos libertamos das prisões conscientes e consciencializamos da inconscientes impostas pelo mundo onde vivemos, caimos num deserto inicialmente árido, sem bússola nem mapa. Entramos num mundo onde a nossa própria razão e o nosso próprio coração comandam. Agimos conscientemente e livremente, mas num processo que muito exige de nós, pois caminhamos por estradas nunca antes percorridas. Não seguimos a multidão – traçamos o nosso próprio trilho. E daí surge a insegurança, da incerteza de cada passo que damos. Cada passo é novo, e as consequências são por vezes incertas.

Entramos num mundo misterioso e único, pois descobrimos que o caminho pelos outros seguido, que seria sem dúvida a escolha mais fácil para nós, não é o nosso caminho, e que este tem de ser pensado e descoberto por nós constantemente.

Mas o processo de libertação exige grande coragem. Exige uma passagem árdua, do conforto do conhecido, para a insegurança do desconhecido. Mas esse desconhecido será o nosso maior aliado, na medida em que tornará a nossa vida numa aventura de descoberta constante de nós próprios e do nosso caminho a seguir, e permitirá um crescimento muito maior – quanto mais é exigido de nós, mais crescemos. Outra dificuldade de passagem à liberdade tem a ver com a relação sociedade-indivíduo. O amor da sociedade pelos carneiros é conhecido por muitos, e é indissociável do atrito que se gera entre as massas e os indivíduos “diferentes”. O igual, normal, vulgar, é aceite, e o diferente, peculiar, “estranho”, é de certa forma discriminado, rejeitado, ainda que muitas vezes de forma inconsciente. E aí reside a dificuldade de nos afastarmos do rebanho – o medo de rejeição. O medo de sermos discriminados, a preocupação com o que os outros pensam de nós e o medo de sermos olhados como estranhos, impedem-nos de sermos genuínos e livres.

Tomemos por exemplo um prisioneiro, encarcerado durante vários anos numa prisão, onde tem comida e dormida garantidas, sem que nada lhe seja exigido em troca, além do seu bem mais precioso – a sua liberdade. Perde todo o tipo de responsabilidade, passando-a para as mãos da justiça (involuntáriamente, mas não é essa a questão neste momento). Não são raras situações em que prisioneiros são libertados após muitos anos de prisão, quando o comodismo e conformismo eram tão fortes, e o hábito de falta de responsabilidade era tal, que a vontade de sair e voltar a integrar-se na sociedade era muito reduzida, se não mesmo nula. O Homem apega-se às suas prisões, desenvolve por elas uma espécie de carinho distorcido, pois elas assumem grande parte das suas responsabilidades. Falo tanto de prisões no sentido físico da palavra, como no sentido mental, dos condicionalismos. Libertar-se dessas prisões implica um esforço inicial muito grande, mas torna-se imensamente compensatório, proporcionando o máximo de felicidade, realização pessoal e crescimento interior.

Apesar de ser vulgar ouvir o contrário, a maior parte de nós prefere viver num estado inconsciente e preso, mas muito seguro e subjectivamente confortável, do que viver de forma verdadeiramente livre, e assumir a totalidade da responsabilidade da nossa vida.

Para ser um Indivíduo é preciso ter espírito crítico, de forma a identificar as prisões muitas vezes dissimuladas e subliminares, e ser corajoso e enfrentar a insegurança, a incerteza, e o medo de rejeição.

Presente versus Futuro

Somos educados para um tipo de pensamento orientado para o futuro... e a abundância de criatividade típica da infância vai sendo destruída, pela educação comum, originando uma perspectiva de busca, de desejo, orientada para objectivos, sonhos, que também origina grande parte das nossas ansiedades e frustrações. A criatividade advém de uma concentração intensa no presente, na acção presente, no momento. A absorção na acção leva um maior domínio da mesma, a uma maior canalização das nossas capacidades, e permite a criatividade. O distanciamento do nosso pensamento relativamente ao momento presente, deslocando-nos para o futuro, reduz a nossa concentração na tarefa, e logo a capacidade de ser criativo. Desde que nascemos que somos educados, por pais, professores, sociedade... a pensar no futuro, a orientar a nossa forma de pensar para o futuro. Temos de certa forma de sacrificar o momento presente para atingir determinados objectivos no futuro. Temos sem duvida de sacrificar o presente, pelo menos em termos de criatividade. E ao sacrificar o presente, sacrificamos também o futuro, pois quanto menos de nós dermos ao momento presente, piores seram os resultados no futuro. Temos de estudar PARA sermos alguém, temos de trabalhar PARA termos dinheiro... somos educados PARA qualquer coisa no futuro. É desvalorizada a pureza da acção, perde-se o valor intrínseco de tudo o que fazemos.

Isto leva ao assassinato da criatividade natural humana, que nasce connosco e está tão presente nos nossos primeiros anos de vida. Esta é também uma das grandes origens de preocupações, de ansiedades, e de frustrações nas nossas vidas. Ao orientarmos o nosso pensamento para o futuro, preocupamo-nos com situações futuras indesejáveis (reais ou fictícias), e desejamos que certas situações se concretizem mais rapidamente (ansiedades e desejos), o que quando não se verifica origina todo o tipo de frustrações.

Na minha humilde opinião, as crianças deviam ser educadas logo desde o início para uma maior vivência do momento presente. Deviam ser estimuladas a agir por agir, pelo prazer da acção. Deviam ser ensinadas a aprender pelo gosto de aprender, e pelo sabor do crescimento interior, e não visando constantemente objectivos futuros. Deviam ser reforçados valores como a busca de prazer no trabalho. O objectivo nunca deveria ser o dinheiro, mas sim a acção em si. Devíamos ensinar que o mais importante é descobrirmos a nossa vocação, seguí-la com determinação, e dedicarmo-nos profundamente à sua prática, pelo simples prazer de fazer o que gostamos. Obviamente que o dinheiro é necessário, e surgiria como efeito secundário de uma total dedicação a uma actividade que nos apraza.

Considero que a presença constante da ambição nas nossas vidas é um factor determinante de destruição da nossa felicidade e da realização pessoal. É importantíssimo que pensemos e repensemos a nossa vida, e estabeleçamos objectivos, que sirvam de faróis nos diversos oceanos da vida. É indispensável que saibamos para onde caminhamos, de forma a não nos perdermos, tal qual barco à deriva. Mas quando toca à acção, a nossa vivência propriamente dita, temos de possuir a capacidade de nos abstrair dos objectivos que estabelecemos, deixando-nos absorver pelo momento presente, dando assim o nosso melhor, e aumentando as possibilidades de virmos a atingir os nossos objectivos e sonhos. A nossa vida deveria alternar entre períodos de reflexão pessoal e definição de metas e estratégias, e períodos de total dedicação ao presente, atingindo assim um equilíbrio perfeito entre o presente e o futuro nas nossas vidas.

domingo, 15 de julho de 2007

Mitologia ou má interpretação?

Dizem os ensinamentos cristãos que quando se morre há dois destinos possíveis: o céu e o inferno. O inferno é para aqueles que foram pecadores durante a vida, e o céu para as almas pacíficas, altruístas e bondosas que por este mundo passam. A nossa conta do presente é saldada no futuro. Alguns crêem que o nosso gestor de conta é um homem velho e barbudo, outros que temos uma verdadeira equipa de consultores financeiros, desde brahma a vishnu, passando por krishna e ganesha.
Na minha opinião, céu, inferno e Deus são o mesmo... o mundo onde vivemos. Jesus assim o descobriu, tal como Siddhartha Gautama, mas esta descoberta dificilmente pode ser transmitida por palavras, e as más interpretações sucederam-se nas várias religiões.
O inferno é a terra de sofrimento onde vive a maior parte dos seres humanos, afogados em medo, angústias, ansiedades e frustrações. É uma terra onde a ilusão do ego oculta a paz e a harmonia naturais, subjacentes ao ser humano e ao mundo onde vivemos. Falo de uma tirania da mente, que nos escraviza numa ditadura anti natura.
O céu também está entre nós, ou melhor, dentro de nós. Ao contrário do que se crê, encontra-se num nível inferior ao do inferno, pois situa-se algures entre a rigidez mental e o coração. O céu é o retorno à paz natural. É a capacidade de se deixar absorver pelo momento presente de tal forma que o passado e o futuro deixam de existir. É conhecermo-nos a nós próprios de tal forma e com tal aceitação, que o amor pelo nosso ser transborda, atingindo todos os que nos rodeiam. É um estado de amor por toda a vida que nos rodeia, e de compaixão pelo sofrimento de todos os seres vivos. O céu é o cenário de liberdade que surge, quando os raios da nossa genuinidade afastam as nuvens do medo e da repressão. É conhecermo-nos profundamente, amarmo-nos profundamente e aos outros, expressarmo-nos de forma totalmente livre. O céu é aqui e agora.
O mesmo equívoco deu-se em relação a Deus. Várias interpretações para o mesmo. Sim, porque realidade há só uma. Alguns multiplicam essa realidade, originando o politeísmo, outros criam imagens de um Deus homem, de barbas. Tantas interpretações criou a mente humana, para algo que foi descoberto por poucos ao longo da história, mas não pode ser transmitido por palavras, sendo mal interpretado.
Se calhar Deus está mesmo em todo o lado, mas não nos devemos restringir a uma visão limitada da palavra, pois não conhecemos a intenção das pessoas que a pronunciaram pela primeira vez. Deus até pode ser energia, que realmente está em todo o lado, e dentro de cada um de nós.
Deus é a harmonia natural que rege a existência, a perfeição que corre nas veias universais, da qual o ser humano se afastou. Deus e o céu consiste no mesmo: o auge da existência, onde se situam todos os seres vivos, excepto o Homem - o aqui e agora. O divino consiste na capacidade de regressar à pureza e inocência que perdemos pouco depois de chegarmos a este mundo. Para atingirmos esse estado divino é necessária morte, mas não no sentido comum da palavra. É necessário, a todo o momento, morrer para o passado, deixando-nos fundir com o presente, com a magia e mistério da vida. Só assim purificamos o nosso ser e entramos em contacto com o sagrado dentro de nós, a criança há muito esquecida nas profundezas do nosso ser.
O inferno é o estado vulgar de existência humana, o céu, ou Deus, é o estado natural. Para atingir o nosso eu celestial, há que viver com o coração, dissolvendo o ego que nos aprisiona, e tomando consciência de que somos todos Um. Somos todos o mesmo.

domingo, 8 de julho de 2007

Postura Zen

Tudo na vida tem o seu valor intrínseco. Todo o ser, toda a parte da existência, toda a acção. Há que saber apreciar o valor de cada coisa independentemente de valores externos. Em termos de acção, há que agir bem por agir, agir sem esperar recompensa, deixarmo-nos envolver por toda a acção. Agir no presente, sem distorcer essa mesma acção com perturbações futuras... agir pelo simples prazer de agir, e de agir bem. Em termos existenciais, há que adquirir um paradigma de apreensão das coisas que nos rodeiam, em que apreciamos as coisas pelo que elas são, sem recorrer a comparação, originando uma avaliação mais justa e mais verdadeira.

Isto é Zen: absorção total pelo momento e pelo que nos rodeia, absorção alheia a interpretações.

Ethica

O que é a ética?
A ética é a arte de viver. É a disciplina da transformação do conjunto dos nossos dias neste mundo numa gigantesca obra prima. E como o fazemos? Simples, no entanto complicado.
Conseguímo-lo agindo de forma honesta para connosco, de forma coerente com quem somos, dentro dos campos da nossa liberdade, liberdade essa que termina onde a dos outros começa. É, assim, fácil de concluir que a ética não é uma arte puramente individualista. Parte do indivíduo, alargando os seus horizontes até a uma harmonia colectiva.
A ética pressupõe compreensão humana, colocarmo-nos na perspectiva dos outros, aceitando a importância de todas as suas necessidades e sonhos, virtudes e defeitos... Enfim, da sua humanidade. A ética é viver agindo bem, de forma a nos proporcionar realização e bem-estar, sem nunca interferir de forma negativa na realização e bem-estar dos outros. Ética é compreensão e tolerância, mas também integridade e transparência. É valorizar a força e nobilidade da acção. É a pureza da intenção.

6 biliões de estradas

A vida em toda a sua imensidão põe à nossa disposição uma infinidade de trilhos possíveis, dependendo das opções que tomamos desde o dia em que nos tornamos seres autónomos. Alguns desses percursos restringem-nos e reprimem-nos, outros proporcionam-nos alguma realização pessoal, e outros transformam a nossa vida num êxtase. Apesar de tantos caminhos se encontrarem à nossa disposição, o mais vulgar percurso de vida é, após um certo tempo, mimetizar, acomodar-se, e limitar-se a sobreviver. Tantas ideologias foram criadas, tantos sistemas de crenças, tantas filosofias de vida, e é sem dúvida mais fácil escolher algo que já foi criado do que criar, ou melhor, descobrir, a nossa própria visão do mundo e correspondente abordagem.
Que piada tem viver a nossa vida segundo o padrão dos outros? Cada ser humano é único, e quando segue um determinado grupo perde uma grande parte de si. Quando seguimos uma doutrina ou uma crença, somos limitados por uma cegueira que nos impede de expandir o nosso conhecimento e a nossa sabedoria. É mais fácil submetermo-nos às algemas dos condicionamentos, e aos sistemas de pensamento de outros. Isto além de exigir menor esforço, retira-nos o peso de assumir a responsabilidade de tudo o que fazemos e arcar com as consequências como seres livres e conscientes. A felicidade é uma expansão da chama única de cada um, e não podemos tentar construir a nossa felicidade atirando achas que não as nossas.
O desafio da vida é conhecer-se... conhecer-se profundamente, e agir como um ser único... A capacidade de discernir é fundamental na triagem de ideias e pensamentos, e no formular de uma filosofia própria e autêntica. O conhecimento das mais ínfimas arestas e dos mais recônditos meandros do nosso ser proporciona-nos uma sensação de segurança e liberdade tal, que planamos sobre a planície da vida, por um caminho nunca antes percorrido por outro ser humano, com um total amor por nós próprios e pelos outros, e uma total alegria e realização... a maior realização que o ser humano pode experimentar: ser, apenas... existir de forma livre e genuína.

domingo, 24 de junho de 2007

O puzzle criativo

A criatividade é o Evereste da inteligência humana. A inteligência não criativa lida com o conhecimento existente na base de dados mental, relacionando os conhecimentos entre si. A inteligência criativa toma por base esse mesmo conhecimento e inova, criando novas ideias e novos conhecimentos. A criatividade do intelecto é um tipo de inteligência puramente mental, racional e lógica, e é por si só uma criatividade incompleta. A criatividade intelectual complementa-se com o nosso lado emocional, o que leva a um grande evolução. O primeiro tipo de criatividade leva à vanguarda da física e da matemática, o segundo leva à poesia, à música, e a todo o tipo de artes.
Há quem defenda que possuímos algo além do corpo e da mente, uma espécie de consciência que poderá ser chamada de alma. Nós atingimos a harmonia e crescemos melhor como um todo se o fizermos de forma coesa - mente sã num corpo são -, e partindo do princípio que essa consciência "paramental", para além dos domínios da mente, realmente existe, temos também de a desenvolver, integrando-a numa tríade corpo-mente-alma.
Voltando à criatividade, e no caso de existir essa consciência que as culturas orientais defendem, na cultura budista ou zen, por exemplo, esta só atinge o seu auge quando esse estado superior de consciência é atingido. Quando o ser se completa a si próprio, quando o autoconhecimento é total e a verdadeira liberdade é atingida, a criatividade atinge o seu próprio auge, pois é um tipo de criatividade que provém de um estado de perfeita harmonia do ser humano como um todo, do perfeito equilíbrio da tríade corpo-mente-alma.
Temos de desenvolver o cerebro no seu conjunto, estimulando o cortex esquerdo e o direito com a mesma intensidade, para exponenciar o nosso intelecto, e temos de desenvolver e cuidar da nossa parte física assim como tratamos da nossa mental, para atingir uma certa harmonia como seres humanos. Da mesma forma, temos de desenvolver a terceira vertente do nosso ser para atingir a harmonia máxima e, em termos de criatividade, atingir o expoente máximo.
Quando se atinge o máximo potencial da nossa criatividade a realização é plena, pois atingimos o patamar mais alto da existência: a criação. E, acima de tudo, atingimos a criação de nós próprios, ou melhor, a capacidade de sermos nós próprios, únicos, contribuíndo obrigatóriamente com algo de diferente para este mundo.

Crítica: o cinzel do crescimento pessoal

Quando a nossa identidade é confrontada com uma crítica, muitas vezes a reacção é defensiva. O nosso "eu" sente-se ameaçado e riposta, encontrando uma explicação racional (ou julgamos nós) para os nossos pensamentos ou comportamentos. No mundo em que vivemos, no nosso ser, tudo se desenrola em função do ego, e tudo tem como propósito defende-lo de ameaças ou fortalecê-lo. O mesmo se aplica ao raciocínio, que para defender o "mestre" ego, usa todas as suas capacidades para manter a coesão do mesmo, originando muitas vezes ideias cegas, ideias fechadas ao crescimento por uma muralha construída com base num espírito não crítico e num ego fundamentalmente inseguro. A crítica abala a coesão do ego, e isto não pode ser permitido do ponto de vista do mesmo. O que o ego não compreende é que a pequena destruição originada pelo abalo crítico precede uma reconstrução que o torna mais forte e mais coeso.
Assim como Sebastião José de Carvalho e Melo transformou o terramoto de 1755 em algo benéfico, na medida em que originou uma cidade mais bonita, e uma baixa pombalina melhor estruturada, muitas vezes o crescimento necessita de uma destruição das ideias pré-estabelecidas, para que se dê a construção de outras mais fortes e coesas.
A aceitação da crítica é um elemento fundamental do desenvolvimento de um ser humano. Toda a crítica retém em si pelo menos uma pequena parte de verdade. Ainda que por vezes subjectiva, essa verdade nunca deixa de o ser, porque vivemos num mundo relativo, em que tudo o que julgamos ser incontestável e representar uma verdade absoluta é, no fundo, subjectivo.
Quando uma ideia vai na sua maior parte contra aquilo que acreditamos ser verdade, é obviamente muito mais fácil rejeitá-la por completo, que colocá-la na mesa cirúrgica mental, e usar o bisturi da consciência para tentar extrair a verdade inerente. Este é o tipo de pensamento que fomenta ideologias extremistas e crenças cegas. Esta não aceitação da crítica leva à rejeitação dessa tal parcela de verdade, e mantém-nos uma passo mais longe da sabedoria e do conhecimento pertinente.
É fundamental ser crítico em relação às críticas. Ser crítico é não aceitar nada como absoluto, não aceitar nenhum ponto de vista como incontestável. É contestar o óbvio imposto pela cultura e pela sociedade, mas é também colocar a hipótese de aquilo que nos parece ser falso poder conter verdade em si, e vice-versa. Para compreendermos esta subjectividade que impregna a vida, é importante conseguirmo-nos colocar sob prismas diferentes de interpretação de uma situação - o vulgar "colocarmo-nos no lugar dos outros"- ou, neste caso, crítica.
Resumindo, devemos ser críticos relativamente à própria crítica, mantendo a abertura, ou seja, não a rejeitando logo à partida, e tentando analisá-la da forma mais objectiva possível. É nesta análise objectiva que entra a capacidade de nos colocarmos sob a perspectiva das outras pessoas, pois fazendo-o conseguimos sair um pouco da nossa própria perspectiva (da nossa esfera pessoal, egocênctrica), e encaramos as situações de um patamar superior, mais objectivo. Se tivermos essa capacidade de "ver como outros veriam", a forma final como encaramos as coisas passa a ser uma soma da nossa própria interpretação com outras, originando uma visão mais vasta, mais aberta e flexível. Se todos fossemos montanhas à volta do vale da vida, este processo equivaleria a algo como conseguirmos subir outras montanhas para daí poder ver o vale, adquirindo um conhecimento mais completo e uma visão mais objectiva do mesmo.
A imaginação ou a visualização criativa, essencialmente parecidas, e que consistem na capacidade de criar imagens mentais, são ferramentas poderosas na adopção de perspectivas que não a nossa. Quanto mais desenvolvidas estas ferramentas se encontrarem, maior a capacidade de elaborar imagens mentais pormenorizadas, mais marcantes e facilmente memorizáveis.
Desenvolver a imaginação ou a visualização criativa leva a uma maior eficácia na adopção de prismas de interpretação diferentes do nosso, pois a construção desses prismas é mais elaborada e melhor estruturada. Estas ferramentas são, portanto, uma ajuda preciosa na aquisição de um conhecimento pertinente, ou seja mais objectivo e real, e o menos centrado no ego possível. Quanto mais perspectivas diferentes foram adoptadas e catalogadas nos nossos arquivos mentais, mais pertinente será o nosso conhecimento, para não falar num grande potencial de fortalecimento da tolerância e da compreensão, que têm também por base a capacidade de nos colocarmos segundo a perspectiva de outros.
Imaginemos um cubo gigante. Em frente a cada face do cubo uma pessoa. Mas o cubo é tão grande que nenhuma das pessoas consegue ver além da face com que se depara. O conhecimento do cubo que cada uma delas possuí é muito erróneo. Quanto mais perspectivas desse mesmo cubo forem adoptadas, melhor a percepção do mesmo e mais pertinente o conhecimento. Suponhamos agora que várias pessoas percepcionam uma situação através de uma lente colorida, em que todas as lentes têm cores diferentes e distorcem um pouco a percepção mas de forma ligeiramente diferente. Uma provoca aumento, uma redução, e por aí adiante. A pessoa que olha através de uma lente não compreende a forma de pensar de outra, e parte do princípio que a outra pessoa está errada e que a sua própria maneira de abordar a situação é que está correcta. No entanto, se essa mesma pessoa conseguir ver o mundo através de outras lentes que não a sua, começa a perceber que tudo é pelo menos um pouco subjectivo. E quando nos apercebemos que o número de lentes diferentes atinge os biliões pelo mundo fora, começa a forjar-se uma tolerância completa e forte.
Tudo isto para dar a entender como a criação de perspectivas diferentes da nossa habitual (através da imaginação e visualização criativa) proporcionam o conhecimento pertinente e também a tolerância.
Após alguma divagação e voltando ao assunto inicial: o desenvolvimento destas capacidades leva a um aperfeiçoamento da construção de diferentes visões e interpretações, e isto relativiza a nossa visão original, altera-a. O seu tamanho e importância mirram quando colocados lado a lado, e cada vez mais em pé de igualdade em relação a outras, originando uma forma mais sábia e flexível de ver e abordar o mundo. Quando a nossa forma de ver as coisas se encontra próximo do absoluto, em territorios egocêntricos, é tanto mais sobrevalorizada por nós quanto mais única for, e à medida que vamos compreendendo outras visões diferentes da nossa, a nossa visão vai se alargando e se fundindo com outras, tornado-se mais vasta e mais completa. Este tipo de abordagem é o mais propício à aceitação da crítica, pois abre caminho à verdade contida noutras formas de ver, neste caso e mais precisamente, noutras formas de nos ver.
Quando desenvolvemos este espírito aberto à crítica, estaremos a abrir as portagens da auto-estrada do desenvolvimento pessoal, esculpindo gradualmente uma personalidade mais forte, e desenvolvendo paralelamente a flexibilidade que nos garante mais crescimento e mais fortalecimento.

terça-feira, 19 de junho de 2007

Tao

"Existem muitas ilhas, mas todas se encontram no fundo do oceano... Fazem parte da mesma terra, do mesmo continente. O mesmo se passa com a consciência."
Osho

Tanta gente na rua...
Uma multidão separada por ilusórias barreiras egoicas.
A mente humana é o instrumento mais complexo e fascinante de que temos conhecimento. No entanto, comete um grande erro ao fazer-nos crer que necessitamos do ego, que a nossa identidade se resume ao "eu". O ego é o componente base da competição e de todo o tipo de atritos entre humanos, e um elemento destabilizador da harmonia natural.
A mente delimita fronteiras inexistentes, que a separam dos outros, fortalecendo a sua própria identidade. Essas fronteiras levam à noção de posse: de posse dos territórios da nossa identidade, de posse do nosso espaço interno e externo, que têm de ser defendidos daqueles que passamos a acreditar serem nossos adversários e constituírem uma ameaça para a nossa identidade. A mente resume a sobrevivência do ser à coesão e à subsistência da sua identidade mental, sendo apesar disso coisas muito diferentes: a nossa verdadeira identidade e a nossa vivência como indivíduos situam-se muito além dos domínios da mente, sendo possível manter uma unidade coesa, viver e ser feliz, sem distorções por parte do ego. É precisamente devido a este mal-entendido que a mente acaba por criar um universo, ou uma perspectiva do mesmo, no qual tudo gira à volta do bem supremo a ser defendido: a identidade.
Cria-se o ego, separando-se o "eu" e o "meu" de tudo o resto. Cria-se a identidade que é o nosso território, o nosso mundo, o nosso universo... Surge todo o tipo de medos de possíveis ameaças à integridade do nosso ego... E nascem os conflitos com os outros seres...
Quando a mente é parada, e um estado superior de consciência é atingido, o ego dissolve-se, assim como todas as suas fronteiras. O universo mental expande-se, atingindo a infinidade do cosmos, e deixa de haver uma identidade a ser defendida, assim como adversários que a possam ameaçar. O sentimento, dizem, é de fusão com tudo o que nos rodeia, de fraternidade para com toda a vida que nos rodeia.
Do ponto de vista lógico, é uma situação perfeitamente compreensível: se o ego é a estrutura mental que nos separa de tudo o resto, quando a mente é parada e este mesmo ego desaparece, a divisão entre o "eu" e o que o rodeia deixa de existir, e deixamos de sentir ou ter noção de qualquer divisão entre o nosso ser e o mundo. Sentimo-nos em união com os outros seres e, sentindo-nos parte de tudo, torna-se inconcebível agirmos de forma negativa para com os outros seres, para com a natureza: estaríamos a destruir-nos a nós próprios.

sábado, 9 de junho de 2007

Somnus Ambulare

Existirá cura para este mal chamado de sonambulismo? Não falo de cura a nível individual, mas sim de uma cura a nível global. Que poderá ser feito para despertar este mundo submerso em sonambulismo, quando a cura, o despertar, depende de uma vontade própria de transformação? O despertar depende da compreensão de cada um, e da coragem de se libertar dum pesadelo mascarado de sonho. O despertar não pode ser impingido... nada que seja verdadeiro e belo pode ser impingido. O despertar reside numa profunda transformação interior, que assenta num profundo autoconhecimento.
Na nossa vida, o nosso espírito pode percorrer 3 fases, separadas por transformações interiores. A primeira fase é o estado natural em que nasce cada ser humano: o estado de felicidade inconsciente. É a fase que vivem as crianças, num estado de pureza, inocência, alegria e amor, mas também de fragilidade, e quase desprovido de crescimento pessoal consciente. À medida que o intelecto se vai desenvolvendo, e os conhecimentos vão sendo adquiridos, o ser humano torna-se mais sábio - intelectualmente falando. Por outro lado, essa sobrecarga de conhecimento e essa complexidade de funcionamento geram um desiquilíbrio, que é o chamado "sofrimento" pelos budistas - a incapacidade de viver uma vida fluída, harmoniosa, simples, e no entanto realizada e feliz. Esta segunda fase - de infelicidade consciente - é essencial, pois sem o conhecimento e a complexificação das capacidades cognitivas, dificulta-se a obtenção de um estado de autonomia, harmonia para com os outros, e capacidade participativa a nível social/global. Apesar de ser uma fase essencial, não representa o fim da evolução, devendo ser seguida de uma terceira fase - a da felicidade consciente. Esta terceira fase é definida por um estado superior de consciência, e reune características das duas fases anteriores: contém em si uma pureza, alegria constante, amor e espontaneidade característicos da primeira fase, com um background de conhecimento e capacidades congnitivas adquirido na segunda fase. Cria-se um ser humano completo: sábio, conhecedor e autónomo, sem perder no entanto a sua sensibilidade, a sua capacidade de presenciar o constante misterio da vida e a beleza de todas as coisas, sendo espontaneo e criativo... sendo acima de tudo livre.
O sonambulismo é um doença que surge na segunda fase, no meio de uma hiperactividade mental, e tem por base a automatização inerente à mente humana. A mente humana, após repetir uma tarefa algumas vezes, automatiza-a, e passa a efectuá-la automáticamente, sem dispender muita atenção à mesma, dirigindo toda a atenção restante para um mar de pensamentos que nos afastam do momento presente. Daí dizer-se que a quase totalidade das pessoas vive na mente, vive afastada do presente, e nunca leva uma vida plena - uma vida desperta.
O esclarecimento tão defendido pela cultura oriental, em especial pelo budismo, também chamado de iluminação ou despertar, é exactamente escapar a esse estado vulgar de ausência. O Zen - do budismo Zen - é um estado de canalização da atenção para o momento presente, para o sentir e para o ser. Quando toda a atenção se encontra direccionada para o presente, para o que sentimos e somos, e para o que nos rodeia, não sobra atenção que nos permita perdermo-nos nos nossos pensamentos, que seria a única hipótese de nos afastarmos do momento presente. O Zen é por isso atingir um estado em que o nosso padrão de funcionamento deixa de ser um caudal de 24 horas diárias de pensamentos, para ser um estado desperto e atento quase 24 horas por dia (e mesmo 24, se for essa a vontade), cujas excepções surgem quando necessitamos da mente para comunicar, para aceder ao conhecimento adquirido no passado, ou planear o futuro.
Vou na rua todos os dias, e observo a quantidade de pessoas a toda a hora e em todo o lado, em stand by, em "sleep mode", a viajar por mundos inexistentes, deixando escapar o momento por entre os dedos que nem areia numa ampulheta - fugaz e sem retorno. Observo e penso... penso nas tantas vezes que me encontro na mesma situação, e no desperdício de vida que representa. Observo e decido, decido que vou fazer tudo para estar presente e desperto, para viver profundamente tantos segundos da minha vida quantos conseguir, deixando-me absorver por completo.
A única cura conhecida para este mal é a meditação. É uma cura tão natural quanto respirar, mas há muito esquecida. É uma cura que tem de ser procurada pelo enfermo, e aplicada pelo mesmo. Não pode ser impingida, só pode ser escolhida. Sonho viver num mundo em que toda a gente vive nesse estado de felicidade consciente, um mundo pleno de paz e harmonia, de amor e alegria, um mundo meditativo. Não sei se será um sonho plausível... Sei que a escolha é de cada um, e a minha já foi feita...
Quero estar presente e desperto... Quero viver plenamente e ser feliz... Quero ser livre...

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Um mundo indiferente

Como é possível fechar os olhos? Como é possível tal cegueira nos ofuscar uma visão do mundo atormentado e doente onde vivemos? Como podemos decidir não ver que a solução existe e está ao nosso alcance? Temos todos os recursos necessários para acabar com a fome e a subnutrição, com todo o tipo de desigualdades... Como podemos deixar-nos cegar pelo poder, pela ambição, pelo egocentrismo/etnocentrismo, e relegar para o subconsciente a responsabilidade de agirmos segundo uma lei cívica e solidariedade universais, de seguirmos uma ética de compaixão e amor pelos nossos irmãos? Que espécie somos nós, que valoriza o desenvolvimento tecnológico e económico desenfreado, em detrimento de um desenvolvimento humano harmonioso, global?
Seguimos um desenvolvimento fragmentado e incompleto, porque temos vindo a ser seres fragmentados e incompletos. O problema reside no monopólio da mente no mundo em que vivemos, e nos seus métodos controversos. A mente é apenas uma das partes do nosso ser, e durante século permaneceu mestre e senhora, escravizando-nos, e tornando-se a causa de uma infinidade de problemas. A mente humana necessita do ego, da sua identidade, e o poder e as posses fortalecem essa identidade, muitas vezes à custa do bem-estar dos outros. A mente deve ser reduzida à sua função de ferramenta racional e lógica, e colocada no contexto de um todo, não fragmentado, unificando o ser humano, e levando a um crescimento humano como um todo. O coração deve segurar o leme da vida, e a mente deve ser o servo que ajuda em todas as tarefas de lógica e comunicação.
O coração não precisa de posses nem de poder para fortalecer o ego, o coração não tem uma identidade para ser ameaçada por medos, medos estes que originam defesas que são mais ataques à liberdade dos outros seres.
Um mundo melhor é um mundo onde a mente submerge no domínio do coração, na consciência... É um mundo regido pela harmonia natural do universo, um mundo onde cada um se apercebe do seu papel no todo, e que a igualdade é o mais fundamental dos direitos, e o mais esperado dos sonhos: a igualdade de expressão do ser e da sua singularidade, a igualdade de liberdade, a igualdade de ser feliz.