quarta-feira, 25 de novembro de 2009

To think or not to think

THAT is the question.
"To be or not to be" é uma questão de resolução relativamente simples e directa. Somos. É possível que haja uma alternativa, que haja um estado de não-existência, e apenas não o consigamos imaginar devido às limitações da nossa mente: só conseguimos imaginar com base naquilo que experienciamos e assimilamos ao longo da nossa curta existência (as representações mentais que constituem a nossa realidade individual são criadas a partir da informação que recolhemos do meio ambiente, directamente, ou por associação de ideias, e por isso não conseguimos criar uma imagem do desconhecido). Há, no entanto, relatos de estados em que é experienciada essa não-existência, mas aí fala-se normalmente da não existência do pensamento ou do "eu", algo que é relatado em culturas/filosofias relacionadas com a denominada espiritualidade, a prática da meditação, etc. Mas mesmo nesses casos julgo que continuamos a ser. O pensamento pode cessar, podemos existir num nível diferente ou de uma forma diferente, se calhar com fronteiras diferentes (quem sabe mais interligados com o que nos rodeia), mas continuamos a existir, a ser.
Portanto, e completando um pouco a linha de pensamento de Descartes ("Penso, logo existo"): mesmo sem pensar, existimos. Continuámos a ter uma existência corpórea, e quem sabe mais do que isso. Na minha opinião, a questão mais pertinente que pode ser colocada é:

Pensar ou não pensar? This is the real question.

Esta é uma questão que fará mais sentido para aqueles que se situam no ponto de encontro (e de certo conflito) entre, por um lado, a prática do sentir e do viver duma forma total, proveniente muitas vezes de culturas orientais (para não haver confusões com filosofias/religiões, como o Bushido, o Hinduísmo, ou o Budismo, deixo o Zen ou o Taoismo como referência), e por outro lado a prática da introspecção, aliada a uma paixão pela razão e pela lógica, assim como pela filosofia, que são sustentadas por um tipo de pensamento tipicamente ocidental e analítico, em oposição à abordagem holistica do oriente. Viver o momento presente numa total entrega, sentido ao máximo, unindo-nos à vida à nossa volta? Ou tentar compreender esse mesmo mundo através da conceptualização, atribuindo significados e analisando?
São duas abordagens que não são opostas, mas são incompatíveis, na medida em que não podem ocorrer em simultâneo. Na abordagem holística o pensamento pára. A atenção expande-se, redistribui-se, e a energia mental dilui-se pelas sensações, pelos sentidos. Deixa-se de tentar compreender pela razão e pela lógica aquilo que não pode ser compreendido. Apreende-se o próprio ser e tudo o que nos rodeia duma forma total, integrada, havendo mesmo relatos de estados avançados em que a fronteira entre o EU e o que nos rodeia se dilui.
Na abordagem analítica atribui-se significados ao que nos rodeia, de forma a melhor controlar o ambiente circundante e de forma a poder comunicar melhor com os outros seres da nossa espécie. Se não dividíssemos o todo em partes e déssemos nomes à essas partes, como é que poderíamos comunicar com as outras pessoas (deixaríamos de poder diferenciar entre o céu e a terra, entre o tronco da árvore e as suas folhas, etc.)? Mas é importante não esquecer que o sistema simbólico que criámos a partir da dissecação e etiquetação da realidade, e a própria realidade que ele representa, são coisas distintas. e quando estamos perante uma experiência e lhe atribuímos automaticamente um símbolo, deixamos de experienciar a realidade para experienciar o símbolo.
É aqui que divergem ao máximo as duas abordagens: a analítica aplica automaticamente essa grelha conceptual à realidade circundante e passa a viver dentro dessa grelha, a pensar a vida (olhamos para uma montanha e em vez de experienciarmos o momento, damos um nome), sendo muito mais difícil acontecer um contacto directo com a realidade; a holística tende a remover as fronteiras (ou a não criar) artificiais/conceptuais, vivendo a vida como um todo.

Pensar ou não pensar? É difícil abandonar a "escola" analítica que nos acompanha desde o berço. É difícil remover uma formatação tão profunda. E será que vale mesmo a pena? Torna-se ainda mais difícil abandoná-la quando o pensar é, acima de tudo, um grande prazer. Quando se considera a filosofia uma monumental arte. A razão e a lógica puras são, na minha humilde opinião, a forma mais próxima de perceber o real duma forma menos subjectiva e egocêntrica, logo a seguir à experiência directa da realidade. Mas para quê admirar um quadro quando se pode presenciar a paisagem original? Da mesma forma, para que pensar a realidade se a podemos viver? Pensar ou não pensar?

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