quinta-feira, 14 de setembro de 2006

O nosso Kharma para atingir o nosso Dharma

Julgo que nesta vida há duas grandes decisões que temos de tomar...

A primeira e a mais fácil, na minha opinião, é que objectivos queremos atingir, o que necessitamos para a nossa realização pessoal. Os objectivos variam de pessoa para pessoa, e consoante os princípios e valores de cada um. Para algumas pessoas uma vida realizada é olhar para trás e aperceberem-se de que tiveram uma carreira de sucesso, outras que tiveram uma vida amorosa satisfatória e encontraram o seu Yin ou Yang, os hedonistas crerão que será tirar o máximo de prazer de cada momento... No meu ver tudo isso é necessário, e deve ser conjugado, contribuindo para uma vida repleta de realização pessoal, mas o bem estar espiritual é mais importante. Mas é necessário ter uma grande abertura de espírito para nos apercebermos disso e valorizarmos a realização espiritual para a prossecução da nossa realização pessoal.
De acordo com Deepak Chopra, a última das sete leis espirituais do sucesso é a lei do Dharma, ou finalidade da vida. A nossa alma faz parte da consciência cósmica, do Tao, e manifesta-se sob a forma física, sendo o Dharma o propósito ou finalidade dessa manifestação.

A segunda grande decisão é o rumo a seguir, como encarar a vida a cada dia que passa, de forma a que, quando começarmos a contar os dias para o fim, olhemos para trás e pensemos “Sinto-me realizado e feliz”. Quando os nossos objectivos são uma carreira ou uma vida amorosa bem sucedida, é mais fácil o percurso do que quando procuramos uma vida realizada e baseada num bom kharma. No primeiro caso “basta” trabalharmos muito, ou nos dedicarmos muito na procura ou preservação da outra metade... Mas quando o que se procura é uma realização espiritual temos que definir um caminho harmonioso ao longo dos anos, no dia a dia repleto de interacção com os outros, procurando também uma harmonia conosco próprios e com a natureza. O estado de harmonia própria é conseguido através da auto-estima e da auto-confiança, assim como do pensamento positivo e introspecção. O estado de harmonia com os outros atavés dum bom Kharma, adquirindo uma postura correcta em relação aos outros. A harmonia com a natureza é atingida através da consciencialização da pureza e da divindade sempre presentes na natureza, inspiração para todos nós, pois funciona de forma natural, perfeita e sem esforço.

Mas para tomarmos conscientemente a decisão de que caminho seguir, é necessário atingir um determinado patamar de consciência.
Numa fase precoce da vida a consciência é quase se não mesmo ausente, e somos guiados pelos nossos pais até outra fase em que já temos alguma consciência, mas as “nossas” decisões são tomadas por outros (pais). Numa fase seguinte, na adolescência, em que as relações interpessoais se intensificam, somos profundamente influenciados pelos outros, pelos amigos e colegas. É já próximo do final da vida académica obrigatória que atingimos uma ramificação (onde podemos atingir o tal patamar de consciência ou não) que pode dar origem a duas fases, podendo conformar-nos e viver a vida como os outros a vivem, continuando a ser influenciados, ou podemos começar a pensar por nós próprios, questionando todas as verdades absolutas, e decidindo como viver correctamente de acordo com os nossos princípios, ideiais e objectivos.

Eu pessoalmente defendo a segunda hipótese, admitindo no entanto que é muito mais fácil seguir a primeira. Seguindo a primeira escolha, acabamos a vida académica, arranjamos emprego, casa e carro, encontramos a outra metade, casamos, assentamos, temos filhos, e passamos o resto dos nossos dias a trabalhar e sustentar a família até nos reformarmos e termos tempos para nós próprios...tempo para parar e pensar que todos aqueles anos não tivemos tempo nenhum para nós, e percebermos que tivemos aquela vida porque os outros também a tiveram assim.
Não digo que não devemos viver dessa forma, só digo que devemos questionar tudo, pensar por nós próprios, e então chegar à conclusão de que caminho seguir. Eu julgo que a parte de encontrar a cara-metade é necessária e faz parte da ordem natural das coisas, da preservação da espécie e da linhagem, e devia ser adoptada por todos (respeitando de qualquer das formas quem assim não pense), mas acho que tudo o resto depende dos nossos ideiais e através da introspecção devemos decidir que rumo tomar.

Pessoalmente acho que uma vida equilibrada envolve uma relação amorosa com companheirismo e romance, mas não necessariamente casamento, e penso que não há idade para essa relação definitiva. De resto, vou desenhando o meu trilho à medida que vou vivendo, tendo sempre por base os meus princípios de respeito pelos outros, e dum estado harmonioso comigo próprio, com os outros e com a natureza. Tudo o resto é escolhido de forma a me permitir manter esse estado harmonioso, e não de acordo com a forma como os outros vivem a sua vida. Afinal é a minha vida, não é? E só há uma...

Às vezes ponho-me a pensar...

Às vezes ponho-me a pensar...

Será que o pensamento filosófico é algo característico de todas as pessoas, ou pelo menos de uma grande parte delas? Será que o senhor indiano que vende flores nos eléctricos e nas discotecas, o frequentador assíduo da noite, o trabalhador da construção civil, o típico e atarefado homem de negócios, se confrontam com questões filosóficas? Será que enfrentam crises existenciais? Será que questionam o seu Dharma, a origem de todas as coisas, ou mesmo a “ética dharmica”?

Eu questiono-me com grande frequência sobre esses assuntos e muitos outros, mas será que é algo inerente ao pensamento humano? Ou será que é possível viver o dia a dia sem questionar nada disto e apenas vivendo com pensamentos mundanos?

Na minha opinião a filosofia é o último passo da evolução do pensamento. Todas as ciências exactas e todo o tipo de conhecimento não-filosófico exige estudo, mas a filosofia exige uma abertura de alma que nos faça ir além de tudo o que se passa no nosso quotidiano e dos outros, fazendo perguntas sem resposta...

Será que o pensamento filosófico é típico dos sonhadores? Será que os “não-sonhadores” pensam que não vale a pena colocar essas questões visto não terem resposta, ou será que a sua mente não lhes permite sequer perceber que essas questões existem?

Eu pessoalmente considero-me um sonhador, mas não penso ser por isso que admiro profundamente o pensamento filosófico. Dá-me verdadeiro prazer e sinto que vou além de tudo o que é físico e etéreo. A filosofia é o úlitmo patamar da pirâmide do conhecimento, ou do não-conhecimento, visto não ter respostas, apenas hipóteses. Mas julgo que a evolução lógica é, depois de saber tudo o que há para saber (não falo em termos individuais, mas sim em termos de espécie), questionar o que não se sabe...ou não?

Ao atingir esse nível filosófico e espiritual, aproximamo-nos um pouco mais da divindade. E atenção que eu não sou religioso, sou ateu por enquanto, mas acredito que devemos saber diferenciar religião de espiritualidade. Com a filosofia e de acordo com o Taoismo, talvez estejamos um pouco mais perto do Tao, do Uno, da consciência divina...o nome não interessa... Ou seguindo as crenças Hindus talvez estejamos mais perto do Brahma.

Na minha opinião o Dharma, ou a finalidade da manifestação física da nossa alma, é atingirmos esse estado puro, em que a nossa essência é uma com o universo, em que nos apercebemos que só existe uma alma - a Universal, que é a nossa também. Muito poucas pessoas percebem isto, e muito menos pessoas conseguem atingir esse estado...mas temos uma vida inteira para tentar...