domingo, 21 de outubro de 2007

Paradoxos

O verdadeiro defensor da ciência e do conhecimento científico não aceita paradoxos. A verdade tem de ser testada e compreendida, e não pode conter em si uma antítese. O paradoxo é um conhecimento incompleto, que deve ser refinado até que deixe de existir.
Mas a vida não é, nunca foi, e nunca será uma ciência...
A vida é uma arte, a vida é a arte... A vida é algo complexo, abstracto e paradoxal, cuja essência não pode ser compreendida aos olhos dissecantes da ciência. A ciência é uma filosofia fundamental para que a comunidade humana percorra a estrada do conhecimento, e evolua na sua vertente física: no desenvolvimento tecnológico, na aquisição de um maior bem estar físico, de uma maior capacidade de combater as enfermidades físicas da vida e aumentar a nossa longevidade... no fundo, na direcção do critério mais básico da nossa existência - a sobrevivência.
Mas a vida não é sobrevivência... a vida não se pode reduzir ao bem-estar físico... a vida quando dissecada não pode ser compreendida. Aliás, a vida é intrínsecamente ininteligível, e mais profundamente incompreensível se torna quando a dissecamos, compartimentamos, especializamos: o verdadeiro conhecimento, ou melhor, a verdadeira sabedoria, resulta do confluir de todos os conhecimentos e de todas as áreas, na maior abstração possível, originando uma fusão inalcançável pela análise: a vida.
A vida é um processo inteligente, infinito no tempo e no espaço, inatingível pela limitada mente humana. O coração, quanto antes, poderia ter um relance dessa perfeição, dessa luz imensa, mas ainda assim a vida não consegue ser totalmente absorvida pelos domínios do coração. Será possível de alguma forma atingir uma percepção dessa realidade misteriosa, perfeita, neutra, mágica, que é a vida?
A vida é uma arte, a vida é abstracta, e logo situa-se mais próxima de tudo o que é artístico e de tudo o que é abstracto, e mais longe dos domínios da mente e da razão. O poeta, o músico, o pintor, o bailarino, encontram-se mais perto da vida... Estes criam vida. O poema, a música, a dança, a pintura, são relances do todo que é a vida. E todas estas artes estão imersas na essência da vida que é o amor.
A vida pode ser dissecada até à mais ínfima partícula. Pode ser analisada pela ciência de uma ponta a outra do universo, mas isso nunca dará uma compreensão do que é a vida. O todo é mais do que a soma de todas as partes. Podemos conhecer tudo o que há para conhecer, podemos dividir e voltar a dividir cada átomo, mas nunca poderemos materializar a analisar um sorriso, a beleza, a amizade, o amor... nunca poderemos medir, comparar e avaliar a maravilhosa sensação de estar vivo... essas características da vida fazem parte dum infindável número que dá uma dimensão muito mais profunda à existência.
Na minha insignificante opinião, ou melhor, na minha opinião que é tão significante como qualquer outra, em tão curto espaço de tempo de vida, é um desperdício abdicar, por um segundo que seja, da sensação de estar vivo. É uma perda de tempo desmistificar o intrinsecamente misterioso, abdicando da realização máxima de saborear a vida, de estar vivo... de fluir, e respirar, e amar.

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