domingo, 7 de junho de 2009

Antibióticos anti-sociais

As bacterias são organismos extremamente simples que habitam o nosso universo, e inundam o interior e exterior do nosso corpo, sendo que passam despercebidas devido ao seu tamanho reduzido. No entanto, o desenvolvimento tecnológico e científico permitiu um estudo cada vez mais aprofundado, com uma precisão espacial e temporal cada vez maior, do mundo que nos rodeia, e especificamente das bactérias e do seu funcionamento. As bactérias são organismos unicelulares que se reproduzem por mitose (crescem e multiplicam-se dividindo a meio, originando dois seres iguais ao original), que apesar do seu tamanho reduzido, conseguem afectar de forma significativa a vida de seres vivos significativamente maiores, como os seres humanos.
E como é que seres tão pequenos conseguem interferir com o modo de vida de seres muito maiores? Através do trabalho de grupo. As bactérias comunicam entre si, e assim unem forças e adquirem a capacidade de causar efeitos significativos em seres como nós. O que se passa é que as bactérias possuem um sistema de comunicação simples mas eficaz, que lhes permite juntas esforços e efectuar uma grande diversidade de comportamentos, desde a luminescência ao ataque virulento de outros organismos.
E como é que as bactérias comunicam? Muito simples: as bactérias estão equipadas com sistemas de comunicação químicos. Possuem mecanismos de síntese de determinadas moléculas, que libertam para "dizer" às bactérias da sua espécie: "estou aqui". Possuem também receptores para essas mesmas moléculas, que são os seus ouvidos e permitem reconhecer as suas parceiras. Uma bactéria virulenta não possui a capacidade de destruir um organismo com uma tamanho tão superior, e tão complexo como o do ser humano. No entanto, este sistema de comunicação permite às bactérias estabelecerem "planos estratégicos", na medida em que lhes permite saber quantas compõem o seu grupo, e quando atingiram um número suficiente grande para que a sua acção seja significativa. Portanto as bactérias multiplicam-se sucessivamente, até um ponto em que, através da libertação das tais moléculas, se apercebem de que estão em condições de entrar em acção, e o fazem.
Convém referir, que as bactérias também possuem outro sistema de comunicação químico, mas este inter-espécies, que é comum a todas as espécies de bactérias. Estas moléculas são produzidas por todas as bactérias, e são captadas por receptores que se encontram em todas as espécies de bactérias. Este segundo sistema permite-lhes ter uma "noção" da existência e do número de bactérias de outras espécies, e ter isso em conta nas suas estratégias.
Muito bem... e em que é que isto é importante, ou tem a ver com a existência de antibióticos? O que se passa é o seguinte: os antibióticos "clássicos" atacam as bactérias tentando destruí-las. No entanto, o conhecimento acerca deste sistema de comunicação das bactérias, sistema este que por sua vez se encontra na base de todas as suas acções, permite quebrar esse ligação "social", anulando os seus efeitos. Abre portas à criação de uma geração de antibióticos, com base na síntese de moléculas similares às que as bactérias usam para comunicar, mas cuja acção impede ou altera essa mesma comunicação. Há a possibilidade de se criarem antibióticos específicos para determinadas bactérias, anulando a sua coesão de grupo, mas existe também a possibilidade de se criar antibióticos que actuem sobre o segundo sistema de comunicação das bactérias, interferindo com todas as espécies. Convém, no entanto, ser cauteloso em relação a este segundo tipo, pois há que ter em conta que não todas as bactérias têm efeitos negativos na nossa vida, sendo que muitas delas têm efeitos benéficos no funcionamento do nosso organismo, e a perturbação do seu funcionamento poderia ter consequência muito graves para a vida da nossa espécie.
De qualquer forma, este conhecimento parece ser uma grande mais valia, numa altura em que o combate com os antibióticos tradicionais se tornava cada vez mais obsoleto devido à adaptação e criação de resistências por parte das bactérias. Esta nova estratégia, no entanto, anula à partida todas as suas capacidades de luta. No entanto fica a questão: apesar de, à partida, não se visualizarem grandes consequências negativas com base nesta descoberta e na aplicação destes antibióticos... a natureza tem a sua própria forma de funcionar, de uma forma equilibrada e sustentada, através da adaptação e da evolução. Não será toda e qualquer forma de alterar esse funcionamento equilibrado um perigo de consequências imprevisíveis? As coisas são como são por um motivo, e a natureza "decide" como instaurar o equilíbrio, esperemos para ver o seu veredicto final.

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