sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A falácia do homo/idio-centrismo

Homo - referente ao Homem, no sentido de ser pertencente à espécie humana.
Idio - referente ao particular, ao que é característico do indivíduo.

Estas duas ideias estão na base duma das maiores falácias da razão humana, que tem por base nada mais nada menos que o egocentrismo inerente ao funcionamento do ser humano. Somos todos peças num puzzle universal, cada um cumprindo o seu propósito natural de manter a sua sobrevivência, assim como a riqueza e diversidade naturais. Neste universo composto por uma infindável variedade de formas energéticas, em diversos estados (alguns dos quais provavelmente nem chegamos a conhecer), dividindo-se entre vivos e não vivos, em vertebrados e não vertebrados, humanos e animais. Como esta distinção me faz confusão. Somos animais. Ser animal faz parte da nossa natureza, e como tal possuímos características comuns com os outros animais, apesar de gostarmos de nos distinguir desses seres naturais. Essa é apenas parte do erro que cometemos na nossa abordagem da vida. Tanto ao nível individual como ao nível da espécie, gostamos de nos sentir únicos, diferentes, distintos... reforça-nos a identidade, o ego. Isso reflecte-se num sem fim de fenómenos sociais, e reflecte-se a um nível mais global na separação que tanto gostamos de reforçar entre nós e as outras espécies animais, baseando-nos quase exclusivamente nas nossas capacidades intelectuais. Não me irei referir quanto à importância que julgo ter a aplicação dessas capacidades, mais do que as capacidades em si, e às consequências que as aplicações das nossas capacidades trouxeram ao mundo à nossa volta.
Essa capacidade intelectual e essa identidade separada das outras entidades vivas separa-nos, torna-nos únicos e especiais. E assim pensamos que o mundo gira à volta da espécie humana, que a natureza vive para nós. É difícil sair da nossa esfera egocêntrica, no entanto parece-me sensato e racional concluir que nada mais representamos para essa natureza que qualquer outra espécie. Nada mais representamos que qualquer outra forma de existência, qualquer outra forma de energia, mesmo que não viva.
Somos uma peça do puzzle, uma parte da engrenagem. O puzzle só se completa com todas as peças, e a engrenagem só funciona com um funcionamento equilibrado de todas as peças. Quando uma peça tenta funcionar sozinha a engrenagem não tarda em quebrar. É assim tão difícil ver que somos menos significativos do que pensamos neste mapa natural? Falo tanto a nível individual como em termos de espécie. É assim tão impossível ver que, em termos individuais, nada mais somos que qualquer outro indivíduo? Que a cor, o estatuto, o poder, o pensamento, são irrelevantes para a posição que ocupamos na natureza? Que a razão que possuímos é apenas mais uma capacidade? Alguns animais também possuem características que nós não possuímos e isso não os torna superiores a nós. Parece-me possível e proveitoso usar essa característica exclusiva para um percebimento verdadeiro das coisas, ser racional e objectivo e perceber que nada mais somos que... que nada!

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