quinta-feira, 5 de abril de 2007

Inverter o prisma

O mundo está às avessas. Não admira que abunde a frustração e o conflito nesta terra de paz e felicidade rarefeitas. Tudo está ao contrario... Passamos os nossos dias virados para o exterior, a observar as pessoas que nos rodeiam, constantemente a avaliar e criticar. Não admira que a maior parte de nós chegue ao fim dos seus dias sem se conhecer a si próprio, sem conhecer a pessoa com quem nasceu, e ao lado da qual passou todos os seus dias. Se tivessemos nascido e vivido constantemente ao lado de outra pessoa, após alguns anos, concerteza que a iríamos conhecer muito bem... e no entanto parece tão difícil conhecermos a pessoa que vemos ao espelho.

E como é que nos conhecemos? Da mesma forma que conhecemos qualquer outra coisa ou pessoa, observando... só que reorientando a perspectiva: observando-nos a nós próprios, aos nossos pensamentos e acções. Isto permite uma melhoria constante, uma melhor compreensão dos outros, e uma relativização do nosso "eu": a introspecção é a cura para o egocentrismo. A introspecção é de extrema importância porque nos permite melhorar, mas mais ainda pois só reconhecendo as nossas falhas e fraquezas podemos partir para a compreensão dos outros, das suas falhas e fraquezas. Isto acontece porque através da introspecção nos colocamos numa esfera superior, de observação de nós próprios, relativizando as nossas necessidades, e deixando de nos julgar o centro de todas as coisas.

Esse julgamento erróneo de que o universo gira à nossa volta, e para satisfazer as nossas necessidades, que estão à frente das necessidades das outras pessoas, é o outro motivo que me faz crer que o mundo está às avessas... que a nossa visão da realidade está deturpada. Esse egocentrismo que paira no céu das mentes dos sonâmbulos que por esta Terra vagueiam faz crer que as nossas necessidades pessoais estão acima das necessidades dos outros, do povo, da espécie. Desta forma vivemos para nós, vivemos para conseguir o melhor para nós, vivemos no nosso pequeno e insignificante mundo pessoal. Mas assim como devemos deixar de observar e julgar os outros para nos observar, e julgar, e melhorar... devemos também deixar de viver de forma egoísta, passando a ter uma visão mais humana e compreensiva dos nossos aliados na estrada da existência. Devemos compreender que temos uma dívida contínua a pagar, uma dívida àqueles que nos rodeiam pois sem eles nunca poderíamos existir, sobreviver, e prosperar. Devemos cumprir o nosso papel nessa cooperação Humana dando o melhor de nós aos outros, vivendo para os outros, adquirindo uma consciência global e uma ética humanista.

4 comentários:

Anónimo disse...

Em primeiro lugar quero dar um abraço a este grande poeta! Es um poço de inspiração para quem lê estes textos!
Em relação ao texto posso apenas acrescentar que existem dois tipos de pessoas; aquelas cúja necessidade é de satisfazer-se a si próprias, (nunca se sentirão satisfeitas); e aquelas cuja necessidade é satisfazer as necessidades dos outros. Este último tipo de pessoas são aquelas que se sentem realizadas, num mundo cúja razão lógica de viver é a de trazer felicidade aos outros, e devido a esses actos sermos apreciados e admirados por essas pessoas. Ao trazeres felicidade aos outros, estas a trazer felicidade a ti próprio.

Sleeping Buddha disse...

Obrigado pelas tuas palavras, grande amigo! :)
Concordo contigo, e fico contente, pois ao compreenderes isso inseres-te automaticamente no segundo grupo, por isso parabens ;)
Acho que o ideal é viver para os outros para os tornar felizes pelo acto em si, por ser correcto, e não à espera de admiração. Mas também compreendo que a tendência da maior parte das pessoas é fazê-lo à espera da "recompensa", porque a admiração dos outros alimenta o nosso ego, e toda a pessoa tem um pouco de agoismo em si. Há muito poucos "puros altruístas" por este mundo, se é que existem algum!

Anónimo disse...

Sim gosto!

"o outro motivo que me faz crer que o mundo está às avessas"

O mundo está as avessas!Não tenhas dúvidas disso!E para dizer a verdade, já ha muito tempo, as coisas estão a culminar agora...porque com este fenómeno da globalização...média...internet....a malta vai sabendo mais qq coisa.

Gostei da intervenção do Juanito. No entanto...(lá vão os reparos...! ), existe o 1º grupo porque ainda não conheceram o verdeiro amor, ou então não querem saber.
Quanto ao segundo grupo..."cuja necessidade é satisfazer as necessidades dos outros" e que fantástica é essa frase!, o amor deve ser gratuito...pois "se amas só aqueles que te amam...que mérito há nisso!" ou se amas a espera que te amem...
...(estou inspirado no Grande Mestre)

Sleeping Buddha disse...

:)
concordo, tem de ser gratuito...
Como o mestre Osho diria, quando se atinge o nirvana, ou o zen, ou a iluminação, o amor deixa de ser uma relação entre sujeitos, que infelizmente envolve alguma possessão, para se tornar um estado de espírito, em que o sentimento de amor abunda e emana em todas as direcções, para todas as pessoas, de forma pura, sem nenhum tipo de expectativas :)