domingo, 15 de julho de 2007

Mitologia ou má interpretação?

Dizem os ensinamentos cristãos que quando se morre há dois destinos possíveis: o céu e o inferno. O inferno é para aqueles que foram pecadores durante a vida, e o céu para as almas pacíficas, altruístas e bondosas que por este mundo passam. A nossa conta do presente é saldada no futuro. Alguns crêem que o nosso gestor de conta é um homem velho e barbudo, outros que temos uma verdadeira equipa de consultores financeiros, desde brahma a vishnu, passando por krishna e ganesha.
Na minha opinião, céu, inferno e Deus são o mesmo... o mundo onde vivemos. Jesus assim o descobriu, tal como Siddhartha Gautama, mas esta descoberta dificilmente pode ser transmitida por palavras, e as más interpretações sucederam-se nas várias religiões.
O inferno é a terra de sofrimento onde vive a maior parte dos seres humanos, afogados em medo, angústias, ansiedades e frustrações. É uma terra onde a ilusão do ego oculta a paz e a harmonia naturais, subjacentes ao ser humano e ao mundo onde vivemos. Falo de uma tirania da mente, que nos escraviza numa ditadura anti natura.
O céu também está entre nós, ou melhor, dentro de nós. Ao contrário do que se crê, encontra-se num nível inferior ao do inferno, pois situa-se algures entre a rigidez mental e o coração. O céu é o retorno à paz natural. É a capacidade de se deixar absorver pelo momento presente de tal forma que o passado e o futuro deixam de existir. É conhecermo-nos a nós próprios de tal forma e com tal aceitação, que o amor pelo nosso ser transborda, atingindo todos os que nos rodeiam. É um estado de amor por toda a vida que nos rodeia, e de compaixão pelo sofrimento de todos os seres vivos. O céu é o cenário de liberdade que surge, quando os raios da nossa genuinidade afastam as nuvens do medo e da repressão. É conhecermo-nos profundamente, amarmo-nos profundamente e aos outros, expressarmo-nos de forma totalmente livre. O céu é aqui e agora.
O mesmo equívoco deu-se em relação a Deus. Várias interpretações para o mesmo. Sim, porque realidade há só uma. Alguns multiplicam essa realidade, originando o politeísmo, outros criam imagens de um Deus homem, de barbas. Tantas interpretações criou a mente humana, para algo que foi descoberto por poucos ao longo da história, mas não pode ser transmitido por palavras, sendo mal interpretado.
Se calhar Deus está mesmo em todo o lado, mas não nos devemos restringir a uma visão limitada da palavra, pois não conhecemos a intenção das pessoas que a pronunciaram pela primeira vez. Deus até pode ser energia, que realmente está em todo o lado, e dentro de cada um de nós.
Deus é a harmonia natural que rege a existência, a perfeição que corre nas veias universais, da qual o ser humano se afastou. Deus e o céu consiste no mesmo: o auge da existência, onde se situam todos os seres vivos, excepto o Homem - o aqui e agora. O divino consiste na capacidade de regressar à pureza e inocência que perdemos pouco depois de chegarmos a este mundo. Para atingirmos esse estado divino é necessária morte, mas não no sentido comum da palavra. É necessário, a todo o momento, morrer para o passado, deixando-nos fundir com o presente, com a magia e mistério da vida. Só assim purificamos o nosso ser e entramos em contacto com o sagrado dentro de nós, a criança há muito esquecida nas profundezas do nosso ser.
O inferno é o estado vulgar de existência humana, o céu, ou Deus, é o estado natural. Para atingir o nosso eu celestial, há que viver com o coração, dissolvendo o ego que nos aprisiona, e tomando consciência de que somos todos Um. Somos todos o mesmo.

3 comentários:

Anónimo disse...

Sem entrar no texto, queria apenas ajustar o começo. Existe grupos cristãos que sustentam um patamar intermédio(A Igreja Católica por exemplo) que é o purgatório.
Quanto ao saldo, tenho uma opinião própria para o assunto.
Infelizmente, hoje vivemos numa sociedade em que se relativiza tudo, e já nada é verdadeiro, já nada é absoluto...tudo é opinião. Ms gostava de poder explicar as pessoas que isso não é assim e não é de todo. Não serve de nada dizer que o mau vai para o inferno, pois como pode o mau saber se não conhece a verdade? Que consciência tem ele disso? Para ele a verdade pode ser o egocentrismo e tudo o resto vale o que vale, e aí se é mantido na ignorância como pode ele ser condenado ao inferno? De qq forma o teu texto tem muitas verdades, quanto ao que dizes sobre as invenções dos homens...e olha que há muitas!!
Abraço
Côrte

Anónimo disse...

Tenho de afinar contigo essa ideia que tens de Deus!
Podemos conhecer Deus pelas suas obras visíveis e invisíveis, e por meio de Jesus Cristo que o descreveu.
De qualquer forma, é lastimável que os Homens tenham deturpado a Palavra. Mas o facto de o terem feito, não invalida origem correcto?

Quanto ao inferno que descreves, porque esse inferno? A que se deve?

Sabes que tenho fortes influências Bíblicas, principalmente de Jesus Cristo, no entanto acho e sempre achei perigoso tirá-lo do seu contexto bíblico, pois aparece cada teoria por aí que apenas serve para fazer as "pessoas tropeçarem". Deus pretende além de outras coisas, que sejamos sempre uma boa influência para o nosso irmão, nas nossas palavras e acções, na imitação do Mestre.

Abraço
Côrte

Sleeping Buddha disse...

sabes que continuo a acreditar que estamos a dizer o mesmo? :)
concordo com tudo o que dizes... apenas tenho uma visão diferente de "Deus"... é complicado explicar... mas em breve havemos de discutir este assunto pessoalmente ;)

em relação ao "inferno"... para mim o inferno é a forma de pensar condicionada... e a escravidão do nosso ser por parte da mente...
o inferno é não sermos capazes de tomar o nosso lugar como mestres, utilizando a mente como instrumento, e de atingirmos a verdadeira liberdade de ser e viver.. que é o chamado céu, na minha opinião :) claro que isto é um resumo rápido... quando tiver oportunidade escrevo um texto exclusivamente chamado de "inferno" hehe