sexta-feira, 4 de maio de 2007

Todos iguais, todos diferentes

Vivemos num mundo onde a pseudo-igualdade se desdobra numa fascinante diversidade. Apesar de considerar a diversidade cultural fonte de grande riqueza e crescimento pessoal, neste caso em específico refiro-me à diversidade individual. A mente humana é um universo complexo e riquíssimo, misterioso e muitas vezes incompreendido. Cada um de nós guarda dentro de si uma marca única e genuína, que pode apenas ser atingida através do auto-conhecimento, situando-se fora do alcance do conhecimento dos outros. Somos mais de 6 biliões, uma quantidade astronómica de seres únicos de potencial inaproveitado. Destes mais de 6 biliões uma grande parte, arrisco-me mesmo a dizer a maioria, oculta o brilho do tesouro que há em si - o tesouro da originalidade.

Apesar de a unicidade residir no âmago da nossa alma, vivemos numa sociedade onde a maior parte das pessoas pensa e se comporta da mesma forma. Mas o maior erro reside na discriminação das pessoas que decidem se libertar das grilhetas sociais, sendo espíritos livres que pensam por si, e agem de acordo com as suas crenças e ideologias. Tornam-se incompreendidas, sendo por vezes de certa forma isoladas, as pessoas que pensam de uma forma correspondente ao tipo de criaturas que são - original.

A causa para o tipo de pensamento e comportamentos homogéneos é, na minha opinião, relativamente simples: somos seres imitadores. O ser humano é um ser social, que desde o berço começa a aprender a se comportar numa relação constante com os outros. Esta aprendizagem é conseguida através da imitação do comportamento dos outros, e tem provavelmente por base o funcionamento dos neurónios-espelho, que tem vindo a ser investigado na ciência actual.

O ponto seguinte é discutível e muito subjectivo. Na minha opinião pessoal, a partir do momento que desenvolvemos um espírito crítico e autónomo (o que nem sempre acontece) devemos, paralelamente ao processo de auto-conhecimento (que considero fundamental para uma vida realizada), partir numa viagem de libertação em que começamos por definir as nossas crenças e ideologias individuais, a nossa perspectiva de nós próprios, da vida e dos outros, colocando a "estratégia" no plano prático, e passando a pensar por nós, e agir de acordo com a nossa ética pessoal, independente de todos os dogmas sociais. Na minha opinião, a única limitação do nosso pensamento é a ética, e a única fronteira das nossas acções é o respeito, a tolerância, e a compreensão humana.
Quando atingimos este patamar, passamos a seres autónomos, espíritos críticos, que agem como pensam, de forma livre. Tornamo-nos inevitavelmente diferentes dos outros, o que poderá desencadear incompreensão, dependendo do nível de diferença, ou seja auto-conhecimento, que atingimos.

O ponto seguinte não considero tão subjectivo, devido ao facto de assentar em princípios, alguns já referidos, que considero universais: a igualdade, a tolerância e a compreensão. Um grande amigo meu uma vez disse, e muito bem, que "é triste uma pessoa ser discriminada por aquilo que é". Um frase simples, que guarda uma verdade muito profunda: cada um tem o direito a ser como é, e isto é mais que um clichê. Cada um de nós é um ser único, e tem o direito a exteriorizar essa sua originalidade sem ser discriminado. Na minha humilde opinião, cada um tem o direito a ser tratado de forma igual, e a ser compreendido como o ser único que é, por mais diferente ou excêntrico que seja, por mais que as suas ideologias e comportamentos sejam diferentes dos nossos.

No fim de contas, impera a liberdade de sermos como quisermos. A liberdade de escolhermos entre o conformismo e adesão ao rebanho, e a originalidade e uma certa rebeldia. Mas a verdadeira liberdade, essa só atingem aqueles cujos espíritos quebraram todos os limites impostos pela incompreensão dos outros. Essa gloriosa liberdade só é obtida quando a vontade de sermos nós próprios é mais forte que aquela de nos adaptarmos, de forma a tornar o nosso caminho mais fácil.

Mas mais importante que essa escolha, é a escolha do respeito pelas escolhas dos outros.

3 comentários:

Anónimo disse...

Gosto!
Presumo que a frase:
"a única fronteira das nossas acções é o respeito, a tolerância, e a compreensão humana." quer dizer que a liberdade das tuas acções vai entrar em choque com o meio...independentemente de que lado está a razão.

E de facto, o teu "poderá desencadear", garanto-te que é "de certeza desencadeará".

Anónimo disse...

«"é triste uma pessoa ser discriminada por aquilo que é". Um frase simples, que guarda uma verdade muito profunda»

A discriminação existe pelo facto de haver um lado que acha que é a forma correcta-o rebanho. E o que dizes depende do campo em que se trabalha. Não concordo com a discriminação, mas com a edificação.

Hugo Leão disse...

Um belo artigo que deveria ser escrito ou lido mentalmente por todos nós diariamente. "Todos diferentes mas todos iguais" Parabéns!