segunda-feira, 4 de junho de 2007

A utopia das utopias? Ou a verdade das verdades?

Nirvana...
Uma simples palavra, dotada da mais profunda das profundidades. É uma simples representação gráfica de uma verdade, ou suposta verdade, que contém em si uma sabedoria tão vasta quanto o universo. As palavras são, à partida, de certa forma ilusórias, pois ocultam o verdadeiro significado. São uma máscara, uma pele falsa de uma verdade complexa, completa e incognoscível.
Verdade há só uma... a realidade não é subjectiva... mas será apreensível? Cada ser humano vive aprisionado no seu mísero e infinito mundo subjectivo, cercado de erro e dúvida, a uma distância vertiginosa da realidade objectiva. Será possível presenciar essa utópica verdade? Ou será essa utopia uma verdade ao nosso alcance?
Nirvana... moksha... iluminação... Deus... esclarecimento... Zen... poderão tantas palavras querer dizer o mesmo? Nunca conheceremos o verdadeiro significado por detrás duma palavra.
Mas e o que representa essa verdade? O que é o nirvana?
O nirvana é ser. O nirvana é estar. É estar completamente presente, é canalizar por completo toda a nossa energia e a nossa atenção para o momento presente. A mente humana não funciona no presente, mas sim no passado ou no futuro. Analisa o presente tendo em conta a sua vasta base de dados, distorcendo-o e impedindo uma percepão pura. Vive perdida entre culpa, preocupações e ressentimentos do passado, e angústias, anseios, e preocupações futuras. Desvia a nossa atenção do momento presente, da verdade.
O nirvana representa a libertação de todos os condicionamentos sociais, pois estes residem na mente. Representa a libertação da dependência de tudo o que nos rodeia, gerando uma liberdade de ser e viver, que estimula o nosso carácter genuíno e criativo, a nossa capacidade de sermos nós próprios.
O nirvana é o reatar da ligação com a nossa criança interior, com a pureza e inocência perdida há muito. É a libertação de uma prisão inconsciente, proporcionando-nos um estado de objectividade total, em que olhamos cada segundo e cada átomo como se da primeira vez se tratasse - é a novidade constante, o reacender do mistério da vida.
A iluminação é um estado de colapso dos medos e energias negativas. É a criação de um paraíso interior onde cada flor que desabrocha emana o seu perfume com total liberdade, um perfume de amor e alegria. E quando o amor e alegria transborda, floresce a vontade de partilhar com os outros, e amá-los...
Eu acredito profundamente num estado superior de consciência. Um estado que ultrapassa a mente humana, racional, condicionada, e muito limitada. Não sei o que chamar a esse estado. Talvez o melhor será chamá-lo de um estado de "ser". A meditação é um provável caminho a percorrer para demolir as muralhas mentais, e atingir esse estado superior de ser. A meditação pára a mente faladora, e cria um novo estado de percepção apurada, refinada, límpida. A meditação centra as energias no presente, de forma abstraída do passado e do futuro. Não os elimina, passa-os apenas para o segundo plano. A meditação faz crescer a paz interior, um estado de serenidade inabalável. Esta serenidade é um rio, à borda do qual morrem todas as energias negativas vindas do exterior, e cujo perfume presenteia tudo e todos à sua volta com amor.
A verdade é falada por todo o planeta, por todas as religiões, sendo sujeita a constantes e infindáveis distorções. Será possível identificá-la por entre todas as verdades subjectivas? Ou tratar-se-ia apenas de mais uma verdade ilusória? Será o nirvana um estado utópico, criador de uma esperança sem fim, demolidora das inseguranças da vida e do medo da morte? Para que ter fé? Para que acreditar sem experimentar? É uma busca que, mesmo não dando garantias de atingir o sucesso, é por si mesma a maior representação de sucesso intrínseco. Cada degrau que se sobe proporciona a maior das alegrias e o maior dos crescimentos... e acima de tudo, a maior das liberdades.
É-me indiferente se o farol existe ou não, desde que a crença no mesmo nos faça navegar na direcção do crescimento. De qualquer das formas, acima da crença e da refutação, julgo encontrar-se o patamar da experimentação. Não considero o nirvana, Deus, o Zen... conceitos religiosos, pois a verdade não é religiosa, pelo menos no sentido que conhecemos. A verdadeira religiosidade reside no autoconhecimento, na harmonia interior e consequentemente exterior, e na liberdade. A verdadeira religiosidade encontra-se por detrás de todos os mitos criados pelas religiões humanas, e cresce em paralelo com a ética, mas uma ética supraconsciente - a ética de ser.

3 comentários:

Anónimo disse...

Nirvana...

Corrige-me se estou enganado:
Pelo pouco que lí sobre o Budismo (nas minhas pesquisas pessoais sobre religião, que venho desenvolvendo a alguns anos), diria por palavras aprendidas nos livros sobre a materia, e não por mérito pessoal, que o Nirvana é a cessação total do desejo e da paixão, cessação da existência individual, existência isenta de dor, medo, ansiedade amor ou ódio?

Falar de Nirvana não será dar um falso objectivo as pessoas? Chegar ao Nirvana não é irrealista? Não será isso uma DESILUSÃO COMO JÁ O SÃO AS RELIGIÕES DO MUNDO?(DESCULPA AS MAIÚSCULAS, MAS É PARA CHAMAR A ATENÇÃO)
Há alguém que o tenha atingido?

"Eu acredito profundamente num estado superior de consciência..."

Penso que estás a falar do espírito que Deus fez habitar em nós, e que retorna a Deus, na morte, a separação do material e do imaterial.

Abraço e tudo de bom
Côrte

Anónimo disse...

"A verdadeira religiosidade reside no autoconhecimento, na harmonia interior
e consequentemente exterior, e na liberdade."

Suponho que seja essa uma máxima do Budismo, certo?

Está certo quando digo(não por mérito meu, mas porque lí sobre a matéria), que a verdade deve ser procurada em nós mesmos, ou seja, a salvação ou a iluminação
vem do empenho pessoal em desenvolver pensamento correcto e consequentemente acções correctas?

Abraço
Côrte

Sleeping Buddha disse...

Estás "máximas" não são do Budismo... podem em parte ser relacionadas nessa "religião", mas não na sua totalidade. Concordo com alguns princípios budistas, mas não concordo com outros, porque os acho extremistas. Para mim, por mais harmoniosa que seja a existência dos monges budistas, nunca será plena, pois vivem em isolamento, e o ser humano só se completa na sua vertente social. Em relação ao total desapego...essa é a visão budista da iluminação, da qual discordo, pois a iluminação não deverá ser incompatível com uma vivência repleta de prazeres terrenos. No entanto, esse estado leva sem dúvida ao desaparecimento de todo o tipo de pensamentos e sentimentos negativos... à ausência de desejo... e a paixão é substituída pelo amor profundo.

A verdadeira religiosidade é o amor, e não dizer-se ser católico ou hindu ou budista, só porque se seguem cegamente os ideais dessas religiões, e se reza na igreja ou no tempo, porque nos foi impingida essa crença quando nascemos e através da educação. A verdadeira religiosidade é uma experiência não imposta pelo exterior, e vai além de qualquer rótulo (hindu, cristã, etc..). Na minha opinião é o amor universal, que so pode ser atingido quando nos amamos a nós próprios, que por sua vez em impossível se não nos conhecermos:
auto-conhecimento -> auto-aceitação -> amor-próprio -> amor pelo outros

para mim ser verdadeiramente religioso é isto.

A "verdadeira iluminação", pelo menos no contexto das filosofias orientais, advem do não-pensamento, e da destruição do ego, eliminando a barreira entre nós e os outros, que é esse mesmo ego. Claro que depois de ser atingido esse estado, podemos continuar a pensar, e é conveniente que seja correctamente!

Quanto à salvação, julgo ser parecido, mas não estou suficientemente informado para comentar!

Voltando ao nirvana, julgo ser possível, no entanto dificílimo, devido a exigir uma dedicação vitalícia...

com tanta coisa...acho que acabei por me perder um bocado no texto... hehehe espero ter conseguido me explicar bem..

Um GRANDE (para chamar à atenção :P) abraço!