sábado, 15 de agosto de 2009

Curto memorando sobre meditação

O estado muitas vezes chamado de meditação é um estado de ausência de mente, no sentido de ausência de pensamento, e logo um estado desprovido de todo o tipo de condicionamentos com origem em conceitos, formulas, conhecimento, enfim... de tudo o que reside na nossa memória – o passado. Normalmente, o conhecimento que temos armazenado sob a forma de memórias surge, espontaneamente ou porque nos deparamos com algo que nos faz recordar, alterando a forma como vemos aquilo que está à nossa frente: vejo uma pessoa que pertence a um grupo que considero de violento, recordo a informação que tenho acerca desse tipo de pessoa, vejo-a duma determinada forma com base na experiência que tenho com pessoas "assim", e activo um padrão de comportamento adequado para lidar com esse tipo de pessoa. Desta forma o nosso pensamento e comportamento é sempre determinado pelo passado e pela experiência, e extremamente limitado na medida em que cria imagens de pessoas novas com base em informação extraída de outras pessoas. Isto acontece de forma a que a nossa mente possa conhecer e compreender o mundo à volta da forma mais económica em termos de recursos. Mas isto não que dizer que não haja outra forma.

No estado de meditação, a mente silencia-se, e com ela toda essa informação do passado. Agimos num estado de inocência, porque tudo à nossa volta é misterioso. Se não há memórias e estamos focados no presente, o conhecimento é colocado de parte, e vemos tudo para onde olhamos como novo. Parece difícil orientarmo-nos sem a nossa pré-programação, mas essa dificuldade de lidar com o desconhecido a todo o momento, proporciona o maior crescimento da inteligência, na sua maior profundidade. Adquirimos um tipo de inteligência que nos permite abordar cada situação como única, tendo uma percepção mais límpida, sem nenhum tipo de limitação originada pelo passado e pela experiência. Agimos assim com total liberdade, sem nenhum tipo de condicionamento do passado. E por isso mesmo a nossa mente acaba por ser mais perspicaz e mais criativa. Liberta-se dos bancos de memória e respectivo conhecimento, agindo assim de forma mais livre e mais concentrada no momento presente.

A meditação permite uma canalização total da nossa atenção para o momento presente, afastando-nos das dimensões psicológicas do passado e do futuro. Torna-nos seres menos automáticos e mais autónomos, com espírito verdadeiramente crítico e independente de factores externos. Aumenta a nossa performance como seres humanos, pois tornamo-nos mais seguros, concentrados, livres, criativos e genuínos, permitindo também uma experiência mais profunda do fenómeno da vida.

3 comentários:

Anónimo disse...

é o que alguns chamam de zen.. ausência de tudo. E pode ser muito importante para que quando "descermos à terra" encararmos este mundo que nos foi deixado de forma mais optimista.

Sleeping Buddha disse...

é sim a ausência de tudo, mas é também o contacto com tudo, o experienciar verdadeiro de tudo. E após o Zen não há descer à terra, porque o Zen é o contacto directo com "a terra". Optimista... pessimista... acaba por ser o mesmo: sim, o optimista proporciona maior bem-estar psicológico, mas do ponto de vista continua a ser um condicionamento psicológico. Zen é ver, ponto. Zen é sentir. Zen é estar. É estar aqui e agora a todo o momento e em todo o lado :)

Sleeping Buddha disse...

correcção: o optimista proporciona maior bem-estar psicológico, mas do ponto de vista ZEN continua a ser um condicionamento psicológico.

(e o blogger devia ter uma opção para editar o comentário :P)