quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Quem não sabe é como quem não vê

Como podemos julgar ter uma percepção próxima da realidade, quando há ainda tanto conhecimento que nos escapa?
Com isto quero dizer que só conseguimos ter uma percepção correcta daquilo que conhecemos, ou melhor, daquilo que compreendemos. Basta adquirir um conhecimento novo para, a partir desse momento, repararmos em algo que tinha estado à nossa frente o tempo todo, e começarmos a encontrar esse algo inúmeras vezes no nosso quotidiano. Quando adquirimos um conhecimento novo ficamos mais conscientes, ficamos mais atentos, ou melhor, com uma atenção diferente, mais aberta.
Por exemplo, achei interessantíssimo quando li que temos um tipo de neurónios, que se chamam neurónios espelho, que são responsáveis por imitações involuntárias de gestos ou acções de outras pessoas. Quando alguém ri para nós, por exemplo, muitas vezes rimos sem nos dar de conta, pois os nossos neurónios espelho "reflectem" a expressão da outra pessoa. A partir do dia em que li comecei a estar mais atento ao comportamento das pessoas, e é incrível o número de vezes que isso acontece! Somos autênticos macacos de imitação! Comecei a ver acontecer em todo o lado, a toda a hora, algo que não notaria se nunca tivesse lido aquele texto. E o mesmo se passa com grande parte do conhecimento. Temos uma percepção que julgamos real das coisas...mas que vai sendo gradualmente alterada à medida que adquirimos novos conhecimentos de como as coisas são e funcionam.
Sendo assim, imaginemos a quantidade de coisas que podemos estar a perder a cada segundo que passa, estando elas mesmo à nossa frente, só porque nunca nos disseram que elas existiam!
Li que, quando Colombo chegou às Caraíbas, os índios não conseguiram ver os barcos do navegador por vários dias, estando eles mesmo em frente à praia. Os seus cérebros não conseguiam processar aquela imagem, porque era algo totalmente diferente de qualquer coisa que eles conhecessem!
É também sabido que o nosso cérebro processa apenas alguns milhares de estímulos exteriores, dos milhões e milhões com que somos bombardeados a todo o segundo...
Da quantidade inicial de estímulos, eliminamos logo à partida uma grande parte, com os nossos sentidos...e dos restante eliminamos muito mais com a nossa "interpretação" das coisas. Associamos, dissociamos, criamos juizos...e após um longo e complexo processo mental, criamos uma perspectiva mental daquilo com que nos deparamos. Claro que isto dura fracções de segundo, mas é o suficiente para alterar a percepção da realidade.
Então até que ponto a percepção que temos do mundo que nos rodeia é próxima sequer da realidade?

4 comentários:

Anónimo disse...

olá..."filósofo"!!!
boa observação essa dos "neurónios espelho".Então aconselhas a usar
essa parte do n cérebro com mais frequência,para termos mais empatia com aqueles que nos rodeiam? continua....

Não ha pachorra disse...

So te faço uma pergunta, como sabes que a tua vida não e um sonho de alguem? E que tudo isto a que nos chamamos de vida não existe esta simplesmente na cabeça dum gajo que esta a dormir?

Sleeping Buddha disse...

caro "impaciente", não sei e ninguem pode ter certeza, acho eu...
apesar de eu acreditar que é pco provável... :P
mas temos de estar sempre abertos a todo as possibilidades até que se prove o contrário...é apenas a minha forma de ver as coisas :)

Sleeping Buddha disse...

olá, anónimo! :)
eu presumo que esse processo seja uma programação genética para promover uma empatia natural que facilite a socialização... mas é só uma teoria..

mas não defendo que devemos fomentar a utilização desses neurónios..
eu acho que o nosso comportamento em relação aos outros deve ser espontâneo...genuíno...devemos apenas abrir-nos e entregarmo-nos a cada relação na totalidade, sem qualquer "artificialidade"..não gosto muito da ideia de provocar esse tipo de reacção para conseguir mais empatia hehe

e tu? :)