terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Meditação, um caminho para a Paz

Há pessoas que dizem que a vida é difícil e complicada, outras defendem que a vida é generosa e muito simples. Eu defendo a segunda perspectiva pois acho que nós vemos as coisas de acordo com a forma como funcionamos. Se aprendermos a funcionar de uma forma mais simples, a nossa visão das coisas tornar-se-á mais simples. E o que é funcionar de forma mais simples...? Na minha opinião será viver mais com o coração e a consciência do que com a mente e a razão.
A mente é um instrumento poderosíssimo de potencial quase infinito, se não mesmo infinito. É de grande utilidade, se utilizada com sabedoria. Mas um mundo de pessoas que são controladas pela mente e se identificam com ela, julgam que eles e a mente são a mesma coisa, não é um mundo de pessoas sábias.
A mente é uma ferramenta duma estrutura muito maior e mais completa. A consciência, ou espírito, ou alma, é algo muito mais profundo, e mais próximo do nosso verdadeiro ser. A mente deve ser utilizada pela consciência nas tarefas racionais da nossa vida. Deve ser utilizada para todo o tipo de comunicação e raciocínio. O problema é que a maior parte das pessoas usa a mente para isso, mas mesmo quando não executa nenhuma dessas tarefas, a mente não pára de funcionar.
Estamos constantemente num estado de sonambulismo, mais ausentes que presentes, perdidos nos nossos pensamentos, enquanto uma vida cheia de coisas belas passa à nossa frente. Desviamos a nossa atenção para o passado ou para o futuro...nesses pensamentos distantes, porque a maior parte das vezes nós é que somos controlados pela mente, e não ao contrário. E ela não pára de funcionar.
Devemos usa-la para nosso proveito, pois é indispensável. Mas devemos dar-lhe descanso quando não é necessária.
É aqui que entra a meditação. A meditação é um estado de não-mente. Um estado em que a mente se acalma e pára por completo. E então podemos desviar as nossas atenções por completo para o que nos rodeia, em vez de andarmos perdidos dentro de nós, nos nossos pensamentos. Quando deixamos de virar a nossa atenção para esses pensamentos, num estado meditativo, e observamos as coisas à nossa volta, estamos mais presentes e alertas, e daí o termo "despertar" ser utilizado pelo Budismo, para descrever o atingir de um estado profundo de meditação, como supostamente foi atingido pelos Budas.
Quando a mente se acalma através da meditação continuamos vivos, e bem mais vivos que antes. Mas passamos a funcionar de outra forma, vivemos através da consciência, ou do coração.
Quando olhamos o mundo usando lentes vermelhas, vemos o mundo vermelho, ou seja, o que vemos depende da perspectiva adoptada. Utilizando a perspectiva mental, é normal que compliquemos o que é simples. A mente é um instrumento muitíssimo complexo, e só sabe ver as coisas de forma complexa. Se, através da meditação, ou de qualquer outro método (se possível) vivermos mais com a consciência e o coração, através desses processos mais simples, a vida tornar-se incrivelmente mais simples, porque a consciência, ao contrário da mente, vê duma maneira simples, pois ela própria é simples.
E quanto mais aprendermos a dosear a utilização da mente, mais rapidamente os nossos problemas desapareceram. Todos os sentimentos negativos, que originam todo o tipo de problemas no nosso mundo, têm origem em pensamentos: o preconceito é um pensamento; a inveja tem origem no pensamento de querermos ter tanto como o outro, por exemplo; todos os outros sentimentos negativos, como a ganância, têm origem em pensamentos.
Se aprendermos a dominar a nossa mente, acalma-la, e viver conscientes, ausentes de pensamentos quando estes não são necessários...com o reduzir da actividade mental e do número de pensamentos, iremos ter menos pensamentos negativos, e logo menos sentimentos negativos e comportamentos negativos.
A mente é valiosíssima e muito muito útil, mas todos os aspectos negativos do ser humano, vêm também da mente. O ser irracional apenas compete e faz o mal por instinto de sobrevivência, o Homem faz intencionalmente, por causa da mente. Se atingissemos um estado permanente de meditação, iríamo-nos comportar duma forma mais parecida com os animais, no aspecto social, na medida em que seria mais harmoniosa e desprovida de negatividade, e continuaríamos a poder utilizar a nossa mente, mas apenas quando quiséssemos, e não quando ela decidisse tomar o controlo. A consciência iria passar mais tempo no leme da nossa vida, e a consciência nunca está errada, a consciência sabe sempre como agir da forma correcta.
O que nos pode fazer ter pensamentos que vão contra os princípios fundamentais da humanidade, de igualdade e respeito, que vão além de todas as crenças e ideologias, é a educação que recebemos ao longo da vida. Mas logo aí, a educação é algo que está incutido na mente. Ao vivermos com a consciência e não com a mente, todos esses pensamentos adquiridos através da nossa aprendizagem desvaneceriam e deixaríamos de agir de forma errada.
O problema é que não podemos obrigar ninguém a meditar, tem que ser a pessoa a querer e dar o primeiro passo. Mas quando desse, ao sentir a paz de espírito que a meditação trás, como poderia não interagir harmoniosamente com o mundo? Afinal, nós não exteriorizamos o que sentimos? Quem se sente irado, exterioriza ira; Quem se sente triste emana tristeza; Quem sente paz, emana paz.

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