segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Viajar é Crescer...

Viajar é uma das coisas que me dá mais prazer na vida...
Viajar é uma das experiências mais enriquecedoras que existem...
Por vezes julgamos que é uma experiência para um restrito número de pessoas, mas digo por experiência própria que não o é: é uma questão de prioridades... se a nossa prioridade e paixão for realmente viajar, há 1001 formas de o fazer quase sem dinheiro, basta muita dedicação.
E é algo em que julgo que vale a pena investir, porque é algo que nos proporciona um profundo bem estar, mas acima de tudo, um grande crescimento pessoal.
Uma pessoa que nasce e vive numa ilha, por exemplo, sem nunca sair dela para proceder a esse belo intercâmbio cultural que é viajar, tem (e eu bem o sei), regra geral, uma mentalidade um pouco limitada, e muito preconceituosa. Na minha perspectiva, a raiz do preconceito é a ignorância, na qual se baseia a intolerância. O preconceito e a intolerância derivam do não confronto com situações diferentes, neste caso culturas e valores, um número "suficiente" de vezes. Agora o problema será definir esse número...mas isso vai da experiência de cada um... À medida que vamos lidando com uma situação que nos é estranha, em relação à qual se pode gerar algum preconceito, começamos a compreender melhor, e com a compreensão vem a harmonia.
Uma pessoa que está educada de uma forma, e vive numa sociedade em que todos são educados da mesma forma, e que não tem contacto com culturas diferentes, torna-se de certa forma ignorante, intolerante, e muitas vezes preconceituosa. Atenção à palavra ignorância. Não tenciono de forma alguma culpar uma pessoa por ser ignorante (quem sou eu para para isso?), ou rebaixá-la relativamente às outras, pois defendo a igualdade entre todas as pessoas, e acredito que só não fazemos melhor quando não sabemos fazer melhor, e logo uma pessoa ignorante só o é se não foi "ensinada a não o ser".
A diferença para uma pessoa educada em tal ambiente cultural, em que não é confrontada com diferenças culturais, é confusa. Ser confrontada com valores diferentes dos seus, por vezes totalmente diferentes dos seus, é confuso, podendo chegar a ser totalmente incompreensível.
O cérebro humano vive muito à base da habituação, podemos reparar nisso em milhares de situações no nosso quotidiano, e se nunca foi confrontado com uma diferença, neste caso cultural, não está habituado a ela. À medida que for confrontado com valores e mentalidades diferentes, vai habituar-se à situação, e vai começar a se tornar mais tolerante (claro que isto é na maioria dos casos, pois quase todas as regras têm excepção). Este é um processo que depende de muitos outros factores, e daí derivam as excepções. Uma pessoa, que por exemplo possa evitar o contacto com essas valores e culturas diferentes, que não seja obrigatoriamente exposta à diferença, pode perfeitamente refugiar-se e enraizar-se na sua perspectiva das coisas, aumentado o preconceito.
Uma pessoa intolerante que é confrontada com algo que não compreende, cria muitas vezes um preconceito (ou como eu costumo chamar, uma "crítica ignorante"), mas quando compreende a razão da diferença, o preconceito defaz-se.
Uma pessoa ao viajar, lida com uma grande variedade de culturas. Lida com mentalidades, valores, crenças diferentes da sua. Começa a compreender que a sua é "apenas mais uma", nem mais nem menos importante do que as outras. Começa a ser mais tolerante a todo o tipo de diferenças, e a aceitar os outros sem preconceitos. Este é um dos caminhos, talvez O caminho, para um mundo harmonioso e justo. Será uma utopia? O caminho é conhecermos e compreendermos os outros, as outras culturas, para coexistirmos nesta aldeia, cada dia que passa mais global.
Este é o verdadeiro crescimento humano, o crescimento global, duma espécie que deveria, como todas as outras, viver em aproximação e solidariedade, em cooperação visando atingir um destino comum.
Mas tão importante como este crescimento, tão importante como conhecermos e compreendermos os outros, é importante nos conhecermos a nós próprios, é importante crescermos nós próprios.
E acho que viajar é uma das muitas ferramentas que podemos utilizar com esse objectivo, uma ferramenta das mais poderosas, diga-se de passagem.
O nosso cérebro é muito associativo, funciona muito à base da associação, comparação, e relativização das coisas e situações. Quanto maior o número de situações nas quais observarmos uma pessoa, melhor a conhecemos; Quanto maior o número de experiências por que passarmos, mais nos conhecemos a nós próprios, porque sabemos como reagimos perante novas situações, estamos a adquirir mais conhecimento sobre nós próprios. As viagens são uma experiência que nos proporciona crescimento pessoal, porque são experiências intensas que nos fazem deparar com situações novas, nos fazem crescer interiormente, e expandem a nossa mentalidade em todos os sentidos. Tornam-nos mais tolerantes e compreensivos, e acho que só essas duas características já são suficientes para provar que viajar é, de facto, crescer.
Mas a magnificência da arte de viajar é o conjugar do crescimento pessoal interior, com o crescimento pessoal social. É uma experiência tão enriquecedora porque nos permite chegar um pouco mais longe no caminho da auto-descoberta, mas também porque nos permite evoluir nas nossas relações com as outras pessoas, e consciencializarmo-nos de que, no fundo, somos um só povo.

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