domingo, 9 de dezembro de 2007

A lâmpada fundida

A solução para a transformação interior, que nos torna independentes do exterior está na consciência. Esta consciência é a qualidade que nos permite estabilizar o nosso interior, através de um contacto profundo, e isso reflectir-se-á no nosso exterior, na nossa vida. Um interior puro e sereno aborda a vida de forma pura e totalmente serena.
E o que é essa consciência? Mais um conceito abstracto e, como tal, de definição controversa. Para alguns o estado de consciência é um estado de atenção, de observação do momento presente, sem nos deixarmos alienar por perturbações mentais muitas vezes originadas em imaginações passadas ou futuras. Esta atenção totalmente consciente não se foca apenas no que nos rodeia, mas também a nós próprios.
Na consciência de nós próprios e na nossa aceitação total de tudo em nós, sem repressão dos aspectos negativos, encontra-se a base da criação de um bem estar na nossa relação connosco próprios. E isso não é possível enquanto não temos a capacidade de estarmos a sós connosco, quando o nosso estado é um constante aborrecimento e dependência permanente do exterior.

Tive o prazer de ler um excerto de um livro do Arno Gruen, que se chama "A traição do Eu", onde é referido exactamente isso: que somos demasiado dependentes de estímulos exteriores, por vivermos numa cultura "fast" e sociedade fast. Que somos bombardeados por estímulos externos de satisfação rápida, o que nos impede de criarmos um mundo interior, onde nos relacionamos connosco, e interagimos constantemente e profundamente com os nossos sentimentos.
Optamos pelo mais rápido e fácil, e é isso que nos destroi. Esse constante bombardeamento de estímulos superficiais que nos fazem sentir vivos, no fundo conscientes, mantém a nossa atenção no exterior, negligenciando o nosso interior, e tornado-nos verdadeiros fast addicts. O fugir de nós, das nossas insatisfações e medos mais profundos, não só não é uma solução, como gradualmente destabiliza a nossa harmonia. Temos de olhar para dentro, olhar com olhos de ver, ver e aceitar tudo em nós, mesmo os medos e "fraquezas", e só aí se poderá começar a construir um templo interior de culto da paz.
No estado em que nos encontramos actualmente acabamos por ser computadores, e o teclado e o rato estão nas mãos de um conceito abstracto chamado de sociedade. Mas no fundo, a sociedade é formada por nós, e apenas nos dá aquilo que queremos. O mesmo se passa com a religião e a política. Apenas nos fornecem a segurança ou pseudo-segurança que procuramos. Só vendem o produto que o consumidor procura, é uma questão de puro marketing. Antes de criticarmos padres e políticos por nos manipularem, devemos criticar as pessoas que inconscientemente pedem para serem manipuladas. Mas além de qualquer crítica, devemos a um nível mais fundamental olhar para nós e tranformarmo-nos, de forma a deixarmos de contribuir para essa inconsciência colectiva.

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