quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Quem sou eu?

Em que consiste a felicidade? A felicidade é o derradeiro estado de espírito, em que todas as nuvens se afastam, e o brilho dos raios solares invade o nosso céu interior. E essas nuvens nada mais são que pensamentos e interpretações. Apenas o que possamos pensar acerca da vida ou a forma como interpretamos o que nos rodeia determina a infelicidade. Em última instância, a felicidade é sempre uma decisão nossa. Isso não invalida, no entanto, que os factores externos possam influenciar essa busca da felicidade, tornando-a mais fácil ou mais difícil. Se a nossa envolvente é um turbilhão de energias negativas, ou se consiste em acontecimentos que se opõem àqueles que fomos formatados para acreditar que são os nossos ideais, é necessária uma maior força interior para atingirmos a felicidade. Se tivermos uma envolvente propícia ao bem estar, será mais fácil atingirmos esse estado de equilíbrio interior. Mas volto a repetir: em última instância, a felicidade depende sempre da nossa forma de abordar ou interpretar o que nos rodeia, é uma harmonia e uma paz interior de uma fragilidade sólida, de uma delicadeza robusta, de uma sensibilidade impenetrável.
Disto conclui-se o óbvio: uma pessoa que consiga criar um contexto externo adequado ao seu ser, conseguirá mais facilmente atingir a felicidade. MAS nunca atingirá a felicidade total se descurar o seu mundo interior. Por mais fértil que seja o terreno, e por mais que se regue, e por mais que o sol brilhe, a flor nunca vai florescer se não plantarmos a semente. E a semente, no nosso caso, é o auto-conhecimento. Mas não um auto-conhecimento crítico/opressivo. Se ao ganharmos maior conhecimento de nós próprios formos julgando e reprimindo aquilo que julgamos errado... Se formos recalcando aquilo que, segundo as ideias da sociedade, está incorrecto, estaremos não só a negar uma parte de nós, mas pior, estaremos a varrer o pó para debaixo do tapete. O chão nunca ficará limpo desta forma. A sujidade continua lá, mas escondida. A repressão é uma barragem que cede mais cedo ou mais tarde, e que nos priva da nossa felicidade a um nível mais imediato e mais profundo do que pensamos. Esconder partes de nós debaixo do tapete do inconsciente apenas fará com que essas mesmas partes venham à superfície sob outra forma.
Portanto, o verdadeiro auto-conhecimento é livre de julgamento, e assim livre de repressão. O verdadeiro auto-conhecimento tem como outra face uma profunda aceitação. Mas não uma aceitação passiva, e sim uma aceitação construtiva. Construírmos os alicerces da nossa força sob um pântano, fará com que esta não seja estável, e não seja verdadeiramente forte. Se reprimirmos as nossas falhas e fraquezas, se as negarmos, nunca poderemos melhorar. Temos de olhar de frente os nossos defeitos, aceitá-los, e então nessa base de aceitação poderemos construir algo de belo, algo com raizes profundas.
Quando deixamos de reprimir facetas do nosso ser, sentimo-nos flutuar. Quando começamos a deixar transparecer quem realmente somos, começamos a sentir os primeiros aromas de liberdade.
E mais importante que tudo: se acreditarmos que já sabemos tudo, pararemos de aprender. Temos de nos limitar a uma sábia ignorância, e nos manter permanentemente abertos ao crescimento, e o mesmo se aplica ao conhecimento de nós próprios. Por isso, se à partida julgarmos saber muito sobre nós próprios, especiamente sobre os nossos defeitos, estaremos a fechar as portas de um auto-conhecimento mais profundo, porque o poço da melhoria é muito, muito fundo. Se acharmos que nos conhecemos bem, provavelmente sabemos muito menos do que pensamos. Quando deixamos de ser presunçosos e nos abrimos a mais descoberta, começa a jorrar a fonte do auto-conhecimento duma forma surpreendente. E essa será a semente que germinará em felicidade, pois como poderemos ser nós próprios e genuínos se não nos conhecermos? E como poderemos ser felizes se nos traírmos a nós próprios, abandonando o prazer de ser para usar uma máscara?
A vida é um rio de auto-descoberta. Aqueles que se perderem na margem morrerão sem avistar o mar.

1 comentário:

Joana Rocha disse...

:) mas que forma deliciosa de escrever.
Concordo com tudo o que dizeste. São temas tão delicados e que nos fazem pensar muito, mas que tu deliciosamente puseste em palavras. Magnifico :D.
Acho a questão da interpretação do que nos rodeia um tema que também tem muito que se diga. Pois as pessoas parecem ser incapazes de pensar que o outro tem uma forma de ver as coisas diferente da sua, dando origem, por vezes, a interpretações erradas, mas tomadas como absolutas :S.
Tenho que te dar os parabéns por cada palavra e agradecer pois despertaste-me para esse auto-conhecimento construtivo... acho que, pelo menos, até hoje o meu auto-conhecimento era intimamente intrínseco com o julgamento e consequentemente com a repressão, vou "meditar" sobre o assunto realmente é como dizes é varrer para debaixo do tapete :S.

Cumprimentos e um Maravilhoso Natal .